terça-feira, 8 de novembro de 2016

Estirpes condenadas

Obviamente novembro não será o mês com o maior número de postagens do blog... Mas quem se importa com isso não é mesmo? Quantidade não significa nada...

Pra dizer a verdade não tenho tido motivos pra escrever ultimamente. Como me aconteceu alguns meses atrás fui acometido por uma espécie de crise criativa. Não sei se essa é exatamente a palavra correta para descrever, mas penso que se trate apenas de um bloqueio, ou vazio. Não me incomodo muito pois se que faz parte de um ciclo, na verdade minha mente apenas está se preparando para algumas mudanças e possivelmente logo devo voltar ao normal. Se é que posso usar 'normal' como um adjetivo aplicável a mim, acho que não.

O fato é que mais uma vez tenho me sentido vazio, sem motivos para viver ou continuar insistindo na vida. E realmente parece que eu poderia ser mais feliz se desistisse sabe?

Preciso simplesmente aceitar que algumas pessoas não foram feitas para serem felizes no amor. Isso é um fato. Como o fato de que as pedras são duras e de que a água é molhada. Fatos que não mudaram de acordo com nossa vontade, mas que existem e são assim de acordo com uma lei e vontade superiores. Estou me referindo a quê? Deus, destino, o universo? Não sei de nada disso, só sei que algumas verdades não podem ser mudadas só com nossa vontade.

Eu, filho do carbono e do amoníaco,
Monstro de escuridão e rutilância,
Sofro, desde a epigênese da infância,
A influência má dos signos do zodíaco.

Profundissimamente hipocondríaco, 
Este ambiente me causa repugnância... 
Sobe-me à boca uma ânsia análoga à ânsia 
Que se escapa da boca de um cardíaco.

Já o verme — este operário das ruínas —
Que o sangue podre das carnificinas 
Come, e à vida em geral declara guerra,

Anda a espreitar meus olhos para roê-los, 
E há-de deixar-me apenas os cabelos, 
Na frialdade inorgânica da terra!

(Augusto dos Anjos)

Parece realmente que alguns são predestinados a solidão desde o seu nascimento, amaldiçoados por uma estrela solitária e fadados a viverem seus dias um após o outro sem ninguém a compreendê-los.

"Porque as estirpes condenadas a cem anos de solidão não tinham uma segunda chance sobre a terra." (Gabriel García Marques)

Essas duas citações refletem parte do que estou sentindo nesse momento... um misto estranho de sentimentos.

Amor

Ódio

Tristeza

Amargura

Resignada Alegria

Torpor

Confusão

Solidão

E todas essas coisas me açoitam continuamente, sem piedade ou misericórdia, sequer me dão uma "segunda chance" de vencer, parece até que o destino está decidido a me matar lenta e dolorosamente.

Quais os motivos por detrás de todo esse sofrimento? Não são as leis do universo ou a vontade sadomasoquista do destino, não, mas pura e simplesmente minha própria vontade de sofrer. Eu mesmo busquei pelo que estou sentindo agora.

Me apaixonei quando não deveria, e alimentei dentro de mim um sentimento que sabia eu me levaria para os braços gélidos da dor. Agora estou aqui, repousado sobre seu colo, sentindo apenas essa dor que já penetrou fundo em meu tutano e agora não me permite mais que dela fuja ou que a amenize. Apenas posso lutar para suportar a ela, me acostumar, o que não tem sido fácil também.

E sabendo disso, que busquei minha própria dor, me enquadro entre os mais tolos dos que caminham sobre a terra. Sou um pobre desgraçado que criou em si a causa da própria morte. Tolice não?

E além do mais, além de toda essa dor, ainda me bloquearam a capacidade de falar sobre ela. Tudo o que fiz foi ficar aqui, dando voltas sem sair do lugar. Tudo o que consigo fazer é me lamentar e agir como um cãozinho, lambendo as próprias feridas.

Quanta bobagem se encontra nessas minhas palavras, nenhum proveito se pode tirar daqui, exceto o ensinamento de como ser um perfeito imbecil, que machuca-se a si mesmo sem pestanejar e depois lamenta-se pela própria sorte...

Ah, sou um mostro de verdade, mas um que assusta e destrói apenas minha própria cidadela interior. Sou o único a morrer de fato pelas mãos dessa abominável criatura... E ao que parece, trata-se de um demônio que gosta de brincar com suas presas, antes de devorar a carne de seus ossos.

Ao que parece meu sofrimento não encontrou ainda previsão para seu término. A calmaria dos últimos dias nada mais foi que apenas isso, uma calmaria breve, um tomar de fôlego para a próxima batalha, contra o mesmo inimigo, que continua avançando imponente contra mim. Ironicamente esse inimigo eu mesmo o concebi e agora recebo dele, de meu próprio filho, de meu amor, essa apunhalada pelas costas.

Por isso digo que já sinto o avançar também dos vermes que hão de devorar meu corpo. Minha morte se aproxima, isso é certo, não há como manter essa vida por muito mais tempo, esse é o único destino para quem busca a própria dor: dor!

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