domingo, 17 de setembro de 2017

A dificuldade do perdão - 24° Domingo do Tempo Comum (Ano A)

A Liturgia deste 24° Domingo do Tempo Comum nos convida a viver uma conversão ainda mais profunda através da experiência do perdão. Essa é a palavra chave das leituras e do Evangelho de hoje e mesmo sendo tão conhecida, tal palavra ainda encontra resistência em nossos corações e apenas se encontra largamente divulgada em nossos lábios.

Acredito que seja primeiramente um caso claro dos famosos sepulcros caiados, que por fora se vestem de belos ornamentos, ou de belas palavras, mas que por dentro se encontram em total podridão, completamente lançados ao ápice da miséria humana. 

Muito se diz sobre perdoar, e em como essa atitude se encontra em consonância com o ato de amar, mas pouco se perdoa de verdade. Não generalizo agora, dizendo que não costumamos perdoar, mas assumo uma posição pessoal em dizer: eu não sei perdoar o meu irmão.

Notório lembrar que o perdão, bem como a obediência, são ferramentas, por assim dizer, que se fazem necessárias em momento em que nosso amor e nossa fé se vem desafiados. Seria muito fácil obedecer quando as ordens estão em harmonia com nossa vontade, da mesma forma que seria muito fácil perdoar quando a ofensa do outro é pequena frente a nossa consideração por ele. Mas é justamente na gravidade da ofensa que se encontra a grandiosidade do perdão. E é essa grandiosidade que tenho buscado, infelizmente ainda sem mais do que apenas alguns vislumbres.

Acontece que é justamente agora, quando as grandes ofensas gritam em meu coração que não consigo perdoar. Foi então que na manhã de hoje, durante a Santa Missa, que ao ouvir as palavras da primeira leitura, retiradas do livro do Eclesiástico, retumbaram em mim como pedras lançadas no rio: "Se alguém guarda raiva contra o outro, como poderá pedir a Deus a cura?" (Eclo 27, 3). 

Ainda que muitas me venha em sobressalto, como um solavanco ou ímpeto de fúria, a raiva que sinto daqueles que me machucaram é presente e real. O pensar na dor que me causaram ainda é motivo de ódio em meu coração. Como poderia então falar sobre perdão, e dizer o quanto Deus quer que perdoemos, e o quanto o perdão é necessário a nossa salvação, sendo que agora, justamente quando sou provado, não consigo perdoar? 

O livro do Eclesiástico continua ainda: "Lembra-te do teu fim e deixa de odiar;" (Eclo 27, 6) E tal frase me recordou a afirmação a afirmação que se encontra logo no capítulo 7 do mesmo livro: "Pensa nos teus novíssimos e deixa de pecar." Essas me introduziram numa profunda contrição e numa decisão por decidir finalmente perdoar. Mas foi somente quando pensei em dar meu perdão que percebi o quanto seria difícil. 

Senti que mesmo agora, tempos depois, a mágoa em mim é presente como tivesse ofendido ontem, e notei o quanto vim alimentando essa mágoa. Já há meses que não comungo, e por isso tenho caído cada vez mais em pecados, mas ainda assim não consigo perdoar. Mesmo as palavras tendo fortes efeitos sobre mim a dor que sinto ainda é maior, mas sei que preciso então mudar, deixar de alimentar esse rancor e finalmente conseguir perdoar. 

Poderia sim, dizer coisas belíssimas sobre o perdão, mas todas seriam falsas diante do rancor que agora habita em meu coração. Penso então que ainda tardarei a conseguir perdoar o meu irmão, da forma como Jesus o ordenou, de maneira perfeita. "Pedro aproximou-se de Jesus e perguntou: 'Senhor, quantas vezes devo perdoar, se meu irmão pecar contra mim? Até sete vezes?' Jesus respondeu: 'Não te digo até sete vezes, mas até setenta vezes sete.'" (Mt 28, 21-22) 

Me dói então pensar no quão duro será o meu julgamento, já que no Pai-Nosso insistentemente peço para ser perdoado da mesma forma que perdoo. Serei certamente condenado, pois insisto em condenar o outro em meu coração. Vivo então para mim mesmo, não seguindo a aquela afirmação feita por São Paulo em sua carta aos Romanos onde diz que "Ninguém (dentre vós) vive para si mesmo ou morre para si mesmo. Se estamos vivos é para o Senhor." (Rm 14, 7-8) Tenho vivido apenas para mim, já que ainda guardo ódio em meu coração contra o meu irmão, e que mesmo após todas as tempestades ainda encontra a morte em meu olhar. 

Sei que o perdão constitui-se como uma das características mais marcantes da moral cristã, e sendo novidade nos primeiros séculos do cristianismo, ainda o é para o meu coração, que ainda recua a menor consideração de perdoar aqueles que tramaram contra mim.

Como perdoar então?

Como conseguir dar o meu perdão?

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