terça-feira, 19 de setembro de 2017

O inimigo que não pode ser morto

Sentado no escuro, no fim de uma tarde calorosa, na tentativa de amenizar o calor de meu corpo e também o que abrasa meu coração. Os últimos dias tem sido para mim oportunidades de reflexão, e justamente por isso assumi uma postura um tanto quanto mais pensativa. 

Acredito que tenha sido uma mudança deveras sutil, nada que tenha sido notado pelas outras pessoas, o que é bom pois a maioria delas tem a péssima mania de sempre querer saber o que está acontecendo em nosso interior, quase sempre movidas pelas curiosidade ou por algum tipo de peso na consciência, mas dificilmente estão realmente interessadas em ajudar. 

Tenho pensado profundamente em coisas como o perdão, o mal que algumas pessoas fizeram a mim e no meu futuro. E admito que mesmo tendo pensado em todas essas coisas com afinco, não consegui chegar ainda a nenhuma conclusão. 

Não tenho tido nenhuma vitória em parar de alimentar a mágoa que sinto por algumas pessoas. E cada vez que ouço o nome delas o meu sangue ferve, e como já é de costume, torna-se em veneno e passa a destilar-se por todo o meu corpo, matando apenas a mim. 

No meu coração, no entanto, ainda não há vestígios de perdão, e tampouco de superação, mas tudo o que consigo pensar é em como gostaria de sentir suas gargantas serem cortadas pela minha própria mão. Seu sangue escorrendo pelo chão e suas cabeças como um troféu a servir de exemplo para meus próprios inimigos.

Mas isso são apenas sonhos doentios da minha cabeça. Na verdade tudo o que há de acontecer é eu ser tomado de uma raiva tão profunda que devora minha carne e minha alma. Mas o que fazer? O que fazer se o nome dela provoca em mim ânsias homicidas? O que fazer se a lembrança dele me faz esquecer de todos os meus princípios e códigos de conduta?

E a lembrança dela parece me perseguir. Para onde quer que eu vire o olhar lá está ela, a espreita, sempre em meu caminho, sempre entre mim e aquilo que amo. E parece que essa é minha eterna condenação, de observa-la ganhar tudo aquilo que mais desejo. Tudo aquilo que mataria para possuir. E no entanto sua existência é uma desgraça tão grandiosas que nem mesmo a sua morte poderia tirá-la de meu caminho.

Como então lutar contra aquilo que não pode morrer? 

Como lutar contra aquilo que não se pode matar?

Talvez o meu inimigo não seja a criatura que se materializa na minha frente como um ectoplasma, mas a vontade doentia que habita em minh'alma, aquela vontade maldita que me faz desejar o que nunca poderei ter...

E olho então para aquela foto, onde delicadamente sorri para mim, e me pergunto onde terei errado, e se um dia poderemos voltar a ser como éramos antigamente... Mas um desejo da vontade forte, vontade de ter justamente aquilo que não posso ter...

Sei agora, percebi agora, que meu inimigo não é a pessoa que declarei como sendo-o, mas a minha própria cabeça. E percebo mais ainda a observar aquele olhar, que a princípio me trazia paz e calor, e que eu desejava possuir ao meu lado para sempre, mas que agora apenas guarda maldade e frialdade ao me fitar.

Olhos distantes, frios. 

O pior tipo de olhar. 

O pior olhar é aquele que não quer olhar, e que dói olhar. 

O olhar frio que corta mais do que o aço. 

A constatação de ser desprezado por aqueles que um dia disseram amar-me me corta mais do que o aço frio, e no entanto cada vez que os vejo ainda sinto meu coração aquecer, sorrir, mas ao ver os seus olhos, a minha alma se encolhe e chora, chora copiosamente a desejar ser amada por aqueles que mais a odeiam...

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