domingo, 3 de setembro de 2017

Entre uma missa e outra

Me sentei de frente ao computador para escrever algo que tenha sentido no dia de hoje, e que tenha tido algum significado para mim, mas no momento não me ocorrem mais do que lampejos das impressões que passaram pela minha cabeça durante todo o dia. Algumas marcantes, que realmente poderiam render até uma boa reflexão, mas não sei se quero ainda falar sobre elas, ao menos não de forma demorada como pretendia, com riqueza de vocabulário, mas as vezes é bom ceder lugar a simplicidade de um pensamento cru...

Cantei com meu grupo em duas missas hoje, em comunidades diferentes, e enquanto esperava entre uma e outra me dei conta, graças as lembranças do Facebook que hoje é dia de São Gregório, o Magno, que tanto fez por nossa Igreja.

Me recordei que pela manhã alguém disse que sou "pau pra toda obra" em se tratando de Igreja, e que fazia de tudo um pouco. De fato eu sou daqueles que não costuma negar uma missão, por mais desafiadora que ela me pareça, mas me pareceu engraçado ser assim chamado justamente no dia de tão grande santo, ele que foi importante e grande em tantos aspectos da vida em comunidade. Combateu heresias, contribuiu permanentemente para a liturgia, vive da pregação, dentre muitos grandes feitos que não me recordo ou não tenho conhecimento. Ele sim foi um "pau pra toda obra", grande em tudo quanto poderia ser e acima de tudo isso, santo.

Oh, quem me dera ser assim como ele, grande em santidade, e não apenas um "pau pra toda obra" que na verdade nada faz direito...

Ainda entre uma missa e outra eu me peguei novamente surpreso com minha própria capacidade de sentir coisas inapropriadas. Refiro-me aos ciúmes que insistentemente vem à tona cada vez que imagino dois de meus amigos juntos. É como se uma voz, a minha voz, jogasse na minha cara a incapacidade que tenho de fazer o outro feliz, enquanto ela apenas precisa querer para fazê-lo. No meu caso não, não importa o quanto queira ou tente, nunca poderei fazê-lo, e essa constatação me corta a alma e o coração como aço frio.

Ao mesmo tempo os meus olhos corriam pelas atualizações das redes sociais, onde muitos conhecidos se reuniam num grande evento da Igreja numa cidade próxima. Eu não quis ir, decidi me dedicar apenas as obrigações que tinha hoje e assim o fiz. Não queria passar o dia exigindo um esforço social de que não disponho no momento. Seria cansativo demais passar o dia dando explicações, cumprimentos e outras coisas quando minha única vontade seria a de ficar sozinho. As atrações também não me agradaram mas ainda assim poderia ter ido, já que é um evento interessante em si, mas não fui pois queria evitar encontrar um certo alguém. Não pude, no entanto, fugir de ver suas fotos nas mesmas redes sociais de que falei a pouco.

Engraçado como sua imagem, seja pessoalmente ou virtualmente, tem em mim um efeito arrebatador, que instantaneamente me tira completamente de órbita e me põe em ressonância com os mais pavorosos pensamentos e sentimentos de impotência e inutilidade. Trata-se de mais uma situação em que, não importam os meus esforços, ou minha força de vontade, mas nada pode mudar a realidade de que nada nunca vai acontecer entre a gente. Cheguei num ponto onde nem mesmo em meus maiores devaneios eu me atrevo a pensar em tais possibilidades. Pois sei que qualquer esperança seria infundada e apenas me traria dor e sofrimento. E na atual conjuntura, onde posso afirmar que estou quase recuperado dos desastres que se foram, estou fugindo de toda dor e sofrimento, pelo tempo que conseguir!

Então, entre uma missa e outra, hoje foi um dia de impressões ímpares. Uma comparação estúpida entre mim e um dos maiores santos da igreja, ciúmes e tristeza pela constatação mais uma vez vivida pela recordação... É, não foi um dia dos melhores, mas pelo que me recordo, das cicatrizes que trago em meu coração, também nem de longe foi dos piores. 

Penso que esses dias possam ser comparados as flores: para um poeta são fonte de inspiração, mas para um alérgico são fonte de estorvo, mas para alguém que caminha na estrada elas podem ser um enfeite singelo ou apenas mato. As flores são as mesmas, mas a importância que damos a elas são a cada momento diferentes, e o mesmo vale para cara momento que vivemos... 

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