quinta-feira, 7 de setembro de 2017

De águas e enchentes

As vezes acontecem coisas que mexem profundamente com a gente, como uma pedra lançada num rio, mudando seu curso, tornando suas águas revoltas, provocando uma agitação semelhante a das enchentes. As vezes, quem vê as águas que um dia foram limpas e calmas se assusta com a agitação que agora se observa em sua superfície, mas dificilmente consegue compreender tudo o que acontece dentro da água naquele momento.

Se uma pedra grande é lançada no curso do rio ela pode vir a alterar esse mesmo curso, e toda a vida existente ali pode sentir isso. Como quando grandes rios são desviados para abastecerem cidades mas acabam por deixar na seca as comunidades ribeirinhas abaixo do bloqueio. As pessoas da parte beneficiada não compreendem o que acontece logo ali, do outro lado dos canos que enchem suas casas. 

Quem vê de fora não compreende a agitação que se dá no interior das águas, e pode muito bem pensar que o rio se encontra em seu curso normal, calmo, quando em seu interior uma forte correnteza arrasta com violência aos desavisados que tentam entrar. 

Penso que assim se comporta nosso coração com relação as pedras lançadas em nós pela vida. As vezes provoca em nós uma perturbação, dor, superficial, mas logo voltamos ao nosso curso normal. Outras no entanto podem alterar para sempre o curso de nossas vidas, sem que jamais consigamos retornar aos caminhos de antes. Mas o rio não perde tempo chorando ou se lamentando pela pedra que foi lançada em seu leito, apenas continua a correr, derrubando o que estiver pela frente se necessário. 

Isso é um outro fato interessante. Por vezes as pessoas alteram o curso natural das coisas sem pensar em quais consequências isso pode trazer, e então, quando vem as enchentes, os desastres, culpam a Deus, a natureza, mas nunca culpam a si mesmas e as próprias atitudes e ações. Quando também são atingidas pelas torrentes de ódio provocadas por suas mentiras e traições as pessoas nos culpam pela fúria que elas mesmas despertaram em nós. 

Eu sou um rio, e minhas águas já pararam de correr por conta do que o outro pensava de mim, e isso não me fazia bem. Agora entendo que, mesmo que me lancem pedras, preciso continuar seguindo, me adaptando quando preciso, mas nunca parando...

E assim se segue o ciclo complexo da existência, com suas pedras, seus fluxos e problemas...

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