terça-feira, 31 de março de 2020

Da angústia

A angústia veio de repente, não anunciou sua chegada, não enviou nenhum arauto, apenas chegou e fincou sua raízes no profundo do coração. A alma se enche de um tremor, sem explicação. Somos levados ao desespero, às lágrimas que caem sem nenhum controle. O que é isso? Como faz para passar? Como recuperar a sanidade? Parece que tudo vai desmoronar, como os prédios antigos que não são mais do que poeira. Até a montanha mais alta pode desaparecer com o passar dos tempos, o que nos impediria de desaparecer? Tudo nos ensina que a existência é passageira. Será que estaremos vivos amanhã ou no próximo ano? Será que deixaremos para trás aqueles que mais amamos? O que será de nós, confinados aqui, dentro de nossas próprias casas, dentro de nossas próprias mentes? Será que nossa consciência conseguirá nos proteger? O escudo que nos cerca se manterá de pé ou cairá, como poeira, deixando-nos expostos como crianças sem pais? Parece-me que aquela coisa que nos mantém distintos está caindo cada vez mais, se desfazendo, desmoronando... E tudo retorna ao nada. É o que parece acontecer com o mundo. Todos enlouquecendo, todos se desfazendo sem nem ao menos perceber. Feras tomando o lugar dos homens e escrevendo, com minhas mãos, esses aforismos. Os homens não percebem seu desespero, disfarçado de alegria alucinada. Apenas quando a angústia, uma das filhas do destino, recai sobre nós, é que percebemos em que buraco nos enfiamos, em que lamaçal estamos chafurdando. Ela parece que nunca vai embora, apenas sinto ser envolvido pelos seus tentáculos gelados, me puxando cada vez mais para baixo, para um poço escuro e fundo de águas imundas. Aos poucos já não vejo mais a luz da luz acima de mim e mesmo com a mão esticada ninguém veio em meu socorro. O que se supõe que eu deveria fazer? Acho que a única razão para eu ter nascido tenha  sido servir de brinquedo nas mãos de um Destino sádico, que me lançou na rodas das existências para, no decurso de algumas horas, me torturar em todos os mundos possíveis. Mas quem haverá de compreender essa angústia, que coração poderá corresponder os horrores que se passam quando olhamos para dentro de nós e vemos o abismo olhando de volta? 

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