quarta-feira, 18 de março de 2020

Em quarentena

É isto, todos isolados por causa da pandemia causada pelo coronavírus. Shopping fechado, missas canceladas, pessoas quietas em suas casas. O país inteiro comovido em conter o vírus que se propaga no ar sem escolher vítimas, ataca a todos. 

Como minha imunidade já não é das melhores eu estou em casa já desde os primeiros casos no país mas agora, com todo mundo entrando no mesmo estado de alarme, isso tem começado a me encher. Isso porque eu em casa o dia todo preocupado com uma doença é um ótimo gatilho pra minha ansiedade. E aí me aparecem as crises, mãos suadas, perda de sono, impaciência. Odeio ser tão suscetível assim as coisas, queria agora, mais do que tudo, ter a aquela resistência estoica de não me abalar com os problemas do mundo. Como bom pessimista que sou isso é evidentemente impossível.

Enfim, o jeito é tentar encontrar alguma saída, um passatempo talvez? Alguma válvula de escape, para que não enlouqueça dentro de minha própria cabeça. Será que os casos começaram a diminuir? Encontrarão uma vacina ou cura? Parece infantilidade esperar por isso agora mas, que posso mais fazer? 

Tentei me concentrar nas aulas. Em vão. Assisti a mesma aula duas vezes e tentei ver outras duas que me pareciam ser de mais fácil compreensão, mas nada ficou na minha cabeça. Minha disposição pra ler foi embora, saiu de férias e está numa ilha paradisíaca bem longe de qualquer contágio de vírus. A única coisa que consegui fazer com sucesso foi fritar na cama de um lado para o outro e ouvir música, tentando ignorar o calor intenso de março. Odeio calor. E odeio pensar demais porque eu nunca penso coisas boas. 

Seria ótimo se conseguisse usar esse tempo ocioso para trabalhar em compreender questões filosóficas, ou para me dedicar à alguma atividade mais produtiva do que ficar na cama olhando o teto e maquinando teorias da conspiração onde eu sempre termino num cenário pós apocalíptico sem as mínimas condições de sobrevivência. Não gosto disso.

Essa solidão e esse clima de apreensão aguçam a minha sensibilidade. Começo a perceber coisas que eu não queria perceber. A ignorância é uma bênção. Parece que eu absorvo tudo, e tudo me afeta com força e potência. É horrível ser assim, as pessoas dizem que é algo bom e que o mundo precisa de sensibilidade mas não, é doloroso demais. 

E aí as paranoias começam a brotar, como ervas daninhas, e eu vou ficando mais e mais aflito. A respiração vai apertando, a visão turva e, quando dou por mim, já estou chorando pesadas lágrimas sem nem entender a razão da aflição.

Acho que, no fundo de tudo, meu maior medo é o de ficar sozinho. Sempre digo isso não é? Pois é a verdade. Meu eu interior não é o do intelectual seguro dos livros e aulas que assisti, não, meu eu interior é uma criança pequena de joelhos ralados, chorando porque não consegue achar a mãe. Por isso sempre, em meus pesadelos, vejo as pessoas indo embora, por isso sempre fico triste quando vislumbro no horizonte alguém aos poucos me deixando. E infelizmente é uma visão bem recorrente. Parece que, em se tratando de mim, o destino não quer que ninguém fique permanentemente. Claro que eu tenho também minha parcela de culpa.

Meu borderline cria em mim a sensação de que estou sempre sendo deixado pra trás, isso me deixa paranoico e faz com que eu mesmo acabe afastando as pessoas ao meu redor. É, perceber e assumir isso é complicado, mas é a verdade e não se pode fugir dela. Tanto não se pode fugir dela como não se pode fugir das lágrimas que agora insistem em rolar, mesmo a contragosto. Não há como contê-las. Não há outra opção a não ser virar o rosto para o lado e deixar tudo sair, quem sabe quando as lágrimas acabarem as coisas estejam um pouco melhores.

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