sexta-feira, 27 de março de 2020

Dois

Um sol que brilha alegre e colorido num dia dia quente, mas não daqueles que deixam a gente mole e com preguiça, mas daqueles que nos faz querer encher o pulmão de ar e correr no meio do campo, por entre as árvores e flores. O céu de um azul claro e brilhante, inspirador a ficar aqui, deitado, olhando pra ele, vendo alguns pássaros passar em alguns momentos. 

Duas pessoas caminham, sozinhas, numa estrada distante. Embora mesmo longe de qualquer coisa elas parecem não ser daquele mundo, mas serem próximas apenas uma da outra. Andam com passo firme mas lento, não é preciso pressa. Nas mochilas apenas o indispensável, o essencial caminha ao 
lado.

O primeiro, mais velho, carrega algumas cicatrizes de batalha, há muito luta para proteger o seu pequeno tesouro. Ele caminha ao lado do outro, com um sorriso simples nos lábios, um olhar sempre atencioso e cabelos escuros.  O mais novo é também mais sério. Seu corpo pequeno e frágil esconde um segredo. Caminha olhando para baixo, preocupado, com o pensamento sempre fechado demais para que qualquer um possa adivinhar o que se passa em sua cabeça. Mas o outro nem se importa, contato que possa protegê-lo, ele se dará por satisfeito. 

É um mundo diferente, parece incompleto a quem escuta assim, mas eu garanto que na minha cabeça tudo o que é preciso saber está aqui. 

Eles andam, se escondem, cada dia num lugar diferente. Aprendem a ficar mais fortes e a se protegerem daqueles que os perseguem, daqueles que desejam separá-los. Não importa, porém, onde estejam, contanto que estejam um com o outro poderão enfrentar qualquer coisa.

Foram traídos, perseguidos e escravizados. Mas foram mais fortes, fugiram, lutaram, sujaram suas mãos com o sangue daqueles que os machucaram, banhadas ficaram de lágrimas suas faces por matarem aqueles que antes seus amigos. Não podem confiar em ninguém mais além um do outro. Seu único refúgio no mundo é o braço daquele que tanto ama. 

Em algumas noites, quando o medo os faz perder o sono, é no colo que encontram o consolo para fechar os olhos sem preocupação. O calor de suas mãos é capaz de dissipar a névoa fria do mundo que não entende o que eles são e nem qual o motivo daquela união. Não existe explicação. Foi apenas uma olhar, e tudo mudou. O mais novo desviou, fugiu por um tempo, mas não conseguiu escapar ao olhar de ternura daquele que tanto lhe procurava. 

Terminaram andando juntos, olhando o pôr do sol, dia após dia, em diferentes lugares, sem ter onde se ficar pois, para eles, só o que importava era estarem juntos. 

Apenas isso.

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