sábado, 28 de março de 2020

De desejos e feras escondidas


Que essa noite não sonhe com quem não devo. Que não deseje comer do fruto proibido. Que não deseje tocar, deflorar, a inocência que há num doce olhar. 

Noite
Desejo
Olhar

Na noite escura eu busco a quem meu corpo clama. Um clamor num desejo animalesco, num insaciável apetite bestial. Mas eu ainda me lembro, daquele toque sensível, do medo, do tremor, do olhar luxurioso, dos lábios quentes no meu corpo.

Dois corpos entrelaçados no chão.
Dois desejos reprimidos que se encontram numa explosão.

Não posso voltar a sonhar, nem a desejar. Mas como negar um desejo? Como controlar um algo que fica no meu inconsciente? Eu não esperava sonhar, nem me dei conta de que deseja tanto assim. Como controlar aquilo que não habita a superficialidade do pensamento mas sim o mais profundo estágio da alma?

Do fundo, do profundo coração.
Sibilando, à espreita, está a fera.

As vezes sinto-me como um animal preso, uma fera desejosa de cravar minhas garras e presas no fundo da carne tenra de minhas vítimas. Como se dentro de meu coração existisse uma selva intocada, onde habita essa fera, ainda desconhecida da luz e dos homens. Sinto esse impulso bestial, meus instintos mais primitivos, gritando dentro em mim, rasgando as paredes de dentro para fora. 

Um rosnado gultural,
garras sendo arrastadas pela parede
um som assustador

Não gosto disso, não gosto de ver essa fera Interior e, no entanto, sinto que ela continua dentro de mim, apenas esperando pra se libertar. Esperando a hora certa de me dominar por completo, de espalhar pelo mundo seu rastro de sangue. 

O fim.
A fera que gritou EU no coração do mundo.

Dentro de cada um há uma fera esperando para ser liberta de suas amarras. Dentro de cada um há um Eu desconhecido até mesmo para o próprio Eu. 

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