segunda-feira, 23 de março de 2020

Realismo

Relutante, em pensar na necessidade de companhia. Toda vez que penso nessa necessidade eu começo a ficar suscetível. Suscetível a ser conquistado por quem sequer tentou. Suscetível a ver amor, carinho e atenção onde na verdade não há. 

Meu ardente coração continua querendo dar-se sem cessar, precisando demonstrar essa ternura. Mas já não creio que dentre as pessoas que me cercam alguém há de compreender meu amor ou entender o que sinto, o que sou. 

Tenho preferido ficar a me conhecer, dedicar-me ao estudo, talvez ainda mais sozinho, é verdade, mas também sem me expor a toda sorte de amores falsos. 

Mais cedo conversava com uma conhecida sobre o que se passa em nosso coração. Parece-nos que há uma tempestade dentro daqueles que, dentre nós, sentem demais. Mas as pessoas buscam a serenidade, a calmaria, ninguém quer entrar numa tormenta. 

E como é que se resolve isso? Ah, essa já é uma questão a ser tratada com uma taça de vinho e alguns comprimidos de Lexotan. 

Vejo que a cada dia mais pessoas se afastam, encontram outros interesses. Vou ficando sozinho, mas entendendo que posso usar esse tempo para aprender, sobre mim e sobre outras coisas. Talvez a metafísica possa me ajudar mais do que ter alguém para abraçar, do que ter alguém para dormir ao meu lado. Ainda que seja o desejo do ardente coração.

Coração tolo, que não consegue ficar só. Tu não fostes feito para amar. Ou talvez foste feito para amar mas não para ser amado. Coração tolo, não busques, não sonhe, não almeje. Deixe isso para aqueles que foram agraciados com o destino de encontrarem alguém. Seu futuro, no entanto, é contemplar o sol poente no horizonte sozinho. 

Não é desilusão, ou desesperança. Não sou um pessimista, apenas encontrei a verdade objetiva da realidade. Embora exista muita beleza no mundo, não existe a beleza da companhia para todos. Talvez não seja uma estrela, entre miríades de irmãs, mas um cometa, solitário a vagar pela imensidão do cosmos. 

Tento não pensar, não sonhar, não deixar que meus olhos brilhem como sempre brilharam, ao ouvir uma voz, ao receber uma mensagem. Ainda que isso me deixe apático, prefiro que essa apatia reflita o vazio do meu coração do que refletir as lágrimas de um amor não correspondido. 

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