sexta-feira, 14 de agosto de 2020

Do alto da montanha

Na escuridão segura, pela secreta escada disfarçada eu subi até o jardim secreto, para encontrar a fonte lacrada. Na noite escura eu busco aquele por quem minha alma clama.  Como cervo fugiste, havendo me ferido. Contemplo do alto da montanha o silêncio solitário. Ele não me incomoda, sempre estive só, nada mudou. Idem velle, et idem nolle. As coisas são assim, o mundo é assim. Não há como lutar com um furacão, como não há como lutar contra o destino terrível. Não há. 

 Medo

- Tenho medo de desaparecer.

- Eu posso desaparecer porque não mereço existir.

- Por que acha isso?

- Porque eu sou inútil.

- Eu não sou desejado. Eu sou uma criança inútil. E você não se importa mesmo comigo não é?

- Usar isso como desculpa é a mesma coisa que fugir. O que você teme mesmo é falhar. Você tem medo de ser odiado pelos outros. Tem medo de reconhecer essa fraqueza até pra si mesmo. 

- Como pode me criticar quando faz a mesma coisa?

 - Você tem razão. No íntimo somos todos iguais. 

- Nossas mentes carecem de algo básico.

- E tememos a carência.

- Nós a tememos.

- É por isso que estamos tentando nos tornar um.

- Nos fundiremos e preencheremos uns aos outros.

- Esse é o Projeto de Instrumentalidade.

- A Humanidade não pode viver sem estar cercada uns pelos outros.

- A Humanidade não pode viver sozinha.

- Embora você mesmo seja único.

- Por isso minha vida é difícil.

- Por isso minha vida é triste e vazia.

- Você quer a afeição e a presença física e mental dos outros.

- É por isso que queremos nos tornar unos.

- A alma humana é feita de elementos fracos e frágeis.

- O corpo e a mente também são feitos de componentes frágeis. 

- Então através da Instrumentalidade a Humanidade deve preencher e complementar uns aos outros. Não pergunte porquê, não existe outra maneira de existir.

Na escuridão segura, pela secreta escada disfarçada eu subi até o jardim secreto, para encontrar a fonte lacrada. Na noite escura eu busco aquele por quem minha alma clama.  Como cervo fugiste, havendo me ferido. Contemplo do alto da montanha o silêncio solitário. Ele não me incomoda, sempre estive só, nada mudou. Idem velle, et idem nolle. As coisas são assim, o mundo é assim. Não há como lutar com um furacão, como não há como lutar contra o destino terrível. Não há. Não há mais nada que seja necessário dizer. 

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