domingo, 30 de agosto de 2020

As palavras como refúgio

As palavras, mesmo duras e frias, podem vir a serem nosso refúgio particular, sejam elas as nossas ou as de outros, ela podem nos ajudar com uma inesgotável inspiração ou, como armas e escudos nas muitas batalhas que travamos. 

No entanto, as palavras requerem cuidado no uso, qualquer arma pode ferir ou proteger. Ao meu redor as pessoas usam as palavras como flechas, lançadas diretamente ao coração de todos, sem distinguir amigos ou inimigos. As palavras são lançadas como uma nuvem e atinge sem mirar em nada em particular. As pessoas não percebem que, com isso, afastam de si aqueles que amam e se preocupam, fazendo das palavras aqueles espinhos do dilema do ouriço.

Conversar é, não raramente, uma tarefa sofrida, especialmente quando as pessoas, precisamente por não saberem nada, acham que sabem tudo e saem por aí alardeando sua sabedoria em ares de superioridade afetada. Todas as vezes que abro um livro ou começo a escutar uma aula eu percebo o quanto o que aprendi ainda é pífio e o percebo o quão distante estou de obter qualquer resposta. Mas os outros parecem viver justamente tendo as respostas para tudo, mesmo quando ao abrir a boca revelem não conhecer sequer as perguntas. 

Por isso o silêncio é preferível a qualquer conversa que somente tende a banalidade, as frivolidades têm me cansado demasiadamente. E sei o quão arrogante isso pode soar mas, de qualquer modo, eu sei que não sei nada, e quero aprender, ao passo que não tenho nada que aprender com quem diz que sabe tudo mas não consegue sustentar isso por mais de duas frases, antes que até mesmo seus argumentos iniciais, no que quer que seja, desde discussões sobre a mais baixa política municipal até o mais esmerado tema metafísico, está contaminado por um pensamento pequeno e viciado em frases feitas que, soando belas ao ouvido de quem diz, bastam para agradá-los em sua resposta, mesmo que não diga nada de substancial. 

Sei que me olham como quem anda de nariz para cima, como quem desdenha a todos, mas isso é porque dificilmente estou prestando atenção suficiente nos outros a ponto de querer ter essa ou aquela expressão. Meu rosto apenas reflete que eu teno ao máximo fugir da realidade empoeirada de onde vivo e me refugiar no mundo que os grandes espíritos viram e, participando com eles dessa mesma realidade, consigo plasmar um mundo distante desde que me prende a mediocridade de simplesmente dizer que sei sem saber nada.  

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