segunda-feira, 24 de agosto de 2020

Em festa

Olhos vazios, contemplando nada em especial, uma parede, uma cadeira... Não sei bem o que está tocando no player, as vezes abro o feed das redes sociais e rolo sem saber o que estou vendo. Não é que seja um daqueles casos em que a mente está tão barulhenta que não consigo prestar atenção em mais nada, pelo contrário, a minha mente está tão vazia que sequer consegue processa o que vê ou sente. Não sente, não reflete, não abstrai, não entende.

As pessoas estão agitadas pra festa. Correm pela cozinha ajustando os últimos pratos que serão servidos para os convidados ou consertam alguns detalhes da decoração. Umas poucas pessoas chegaram mais cedo para ajudar. Eu não sei se deveria fazer alguma coisa, já fui lá fora duas ou três vezes e fiquei perdido. Voltei pro quarto e fechei as cortinas verdes, que banharam o quarto com uma luz meio fosca. 

Faz frio, e eu gosto disso. A chuva já passou mas eu ainda sinto as gotas de melancolia pousando sobre mim. Gostaria de dormir um pouco e aproveitar as temperaturas mais amenas. Não queria ser um chato com ninguém, mas preferia que não houvesse festa. Preferia não ver ou falar com ninguém, afinal não faço tanta diferença assim. 

Fique de frente pro espelho e tentei fingir um sorriso, fracassei. Os músculos do meu rosto se contraíram numa careta de desconforto. Acho que a inexpressividade vai ser a minha escolha pra hoje, desde os parabéns até a sessão de álcool que deve acontecer logo depois. Talvez se eu simplesmente sair pelo portão ninguém dê por minha falta até a noite, mas acho que seria grosseiro de minha parte. Sou forçado a usar uma máscara de contentamento, enquanto escuto banalidades meio a uma comemoração sem sentido e depoimentos de pessoas desejosas de sexo, alteradas pela bebida. Não será nada fácil. 

A noite terminou mais ou menos como começou, com uma irritante dor de cabeça, e a certeza de que prefiro socializar em doses homeopáticas. Acordei cansado, como que de ressaca, mesmo sabendo que não poderia estar de ressaca. Preferi ficar na cama por um tempo a mais, assisti uma aula mais tranquila e voltei a deitar, sem pensar muito. Agora que já chega o fim da tarde eu começo a me sentir um pouco melhor, como se uma pontinha de forças aos poucos fosse retornando ao meu corpo.

É sempre assim, eu sinto que sou sugado pelas pessoas ao meu redor, como se fosse uma esponja, e por isso mesmo meu cansaço parece nunca cessar. Talvez por isso tenha desenvolvido certa fobia de ficar em ambientes muito movimentados, sinto como se nesses lugares a energia das pessoas ficasse uma confusão só, e eu me sinto enjoado, suscetível as mudanças de humor, aos medos, as dores, tudo isso parece demais pra mim. 

Ao menos isso me rendeu uma boa reflexão, ao lado de um amigo. Nós conversamos sobre como temos vontade de partir, recomeçar em outro lugar, tentar uma vida nova, e como o sonho de nos livrarmos disso aqui tudo é algo que tanto nos encanta. Isso é pensamento recorrente por aqui, como me sinto sobrecarregado e oprimido pelo meio em que vivo, e o quanto gostaria de ver coisas novas, viver em lugar que não seja tao feio e tão depressivo, onde as pessoas tenham um pouquinho mais de bom gosto, qualquer lugar onde o mundo não seja tão empoeirado e barulhento. 

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