segunda-feira, 14 de junho de 2021

Dias e dias

E qual não foi a minha surpresa ao perceber que, depois da queda da temperatura, também havia começado a chover? E como não dormir ainda melhor com a melhora considerável da umidade e com esse canto de acalanto batendo na janela, perfumando o ambiente com o cheiro de terra molhada e uma calma que esses dias sempre trazem? 

Dias nublados são um presente dos céus: são mais tranquilos, como se a preguiça se instaurasse no cosmos, e o sono é mais profundo, só isso já deveria ser mais do que o bastante para fazer desses os melhores dias. É quase possível esquecer do desconforto dos dias quentes, seja pelo calor do sol ou de algo que venha tornar o nosso interior tão inquieto a ponto de incomodar também aqui fora. 

É tão estranho, saber que vivo no meio desse dicotomia entre o calor e o frio, entre os belos dias nublados, tranquilos, e os dias em que o desespero toma conta de mim, como o sol queimando a todos com sua luz inconveniente. Entre dias que sou eu mesmo e dias que sou um monstro na frente do espelho, que já não consigo mais me reconhecer. Entre dias assim eu me vejo como alguém que fita o mar de um farol na praia, observando a tempestade que se aproxima ao longe mas não podendo fazer mais do que fugir dela, ou ainda pior: por mais que fuja eu sei que nunca poderei ser mais rápido ou poderoso do que uma tempestade, a fúria do oceano e do tornado são imbatíveis, tudo o que se pode é tentar de algum modo suportar a tempestade e torcer pra ainda existir algo de pé quando ela passar. 

Claro, em dias em que me sinto de pé eu só posso esperar pelo quê há de me derrubar mais uma vez, e talvez seja apenas para isso que existem os bons dias, os dias nublados, apenas pra colocar de pé e esperar ser mais uma vez derrotado pelos dias de sol. 

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