segunda-feira, 7 de junho de 2021

Pecado e Projeção

Eu não quero que esse texto seja triste, mas eu não posso me furtar a registrar algumas reflexões que vieram justo quando eu pretendia dormir, me fazendo levantar em plena noite fria apenas que para evitar que essas palavras fiquem perdidas nos recessos oníricos da minha mente. 

Fiquei pensando, após os delírios molhados de sempre, de onde será que vem essa necessidade que temos do outro. Quando Aristóteles definiu o homem como um animal social ele já havia percebido essa necessidade, que é óbvia desde o primeiro instante de vida, mas parece ser algo tão óbvio que nunca foi exatamente respondido de fato porque talvez seja a fórmula mais básica e essencial do homem mesmo, e já é assim desde há tanto tempo que já nem se lembram mais de se perguntarem de onde vem isso. 

Será que fomos concebidos naturalmente para viver ao lado de alguém, como se a Divindade tivesse realmente concebido o homem para andar ao lado de outra pessoa, e que não era bom para ele que estivesse sozinho? Isso é a forma mesmo do homem ou uma condenação, por um pecado tão primitivo que já não nos lembramos dele mas cuja marca ainda se mostra geração após geração, como se tivéssemos sido punidos pelos deuses por sermos poderosos demais e assim vivemos em busca daquela contraparte que há de nos completar de algum modo misterioso e sublime?

Não somos capazes de ficar só nem mesmo em nossos pensamentos, donde temos a necessidade tão grande que nos faz idealizar alguém nem que seja pra satisfazer alguma necessidade noturna urgente. O homem sozinho parece triste e incompleto, ao unir-se carnalmente parece encontrar no outro o que falta em si mesmo. 

Isso me parece, ao mesmo tempo, a verdade primeira e mais óbvia do homem e a maior de todas as injustiças. Não é bom que o homem esteja só mas é horrível a dificuldade que se passa para não estar só, e é horrível não ser capaz de dormir apenas por não ter alguém ao seu lado, por desejar companhia tão desesperadamente que parece ter sido aberto um buraco bem no âmago do nosso ser, e que esse vazio só pode ser completado com o vazio de um outro alguém. É horrível estar só mas não me parece sermos capazes de mudar isso, ao passo que esta soa mais como condenação por algum pecado esquecido do que uma projeção inicial e ideal, ao passo que, realisticamente parece ser ambas as coisas. 

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