domingo, 6 de junho de 2021

Pena

Gosto da tranquilidade desses dias, tenho realmente me sentido leve, e não consigo imaginar forma melhor de descrever isso. É com imenso prazer que digo isso: leveza, uma palavra que vem como brisa, soprando neste fim de tarde, simples, sem dor, sem mancha, leve como uma pena ao vento. Não me lembro quando foi a última vez que me senti assim, não me lembro sequer se alguma vez já me senti assim. 

Tudo parece melhor: a comida mais saborosa, o sono realmente descansa, as manhãs passam mais devagar e a noite não tem aquele peso, aquela ameaça, não há aquele medo constante... É, realmente é muito bom sentir isso. 

Uma pena que as coisas boas não me rendam tantas linhas quanto a dor e o sofrimento que, passando por uma elaboração, são ditos de diversas formas, mas a leveza sequer precisa de tais subterfúgios poéticos, ela se mostra por si sem precisar de analogias e metáforas, a leveza se mostra e é justamente a presença total que não pode ser dita senão que pode ser contemplada e vivida, é apenas isso. 

Claro que isso não significa que todos os meus problemas tenham se resolvido, mas ao menos agora eu sinto que há uma forma de resolver ou, pelo menos, deixar para lá, coisa que, até uma semana atrás era impensável. 

Ainda sinto certo vazio, a carência continua presente, mas até mesmo ela, antes tão brutal e assustadora, agora é apenas um incômodo constante, mas nada que se compare aquele carrasco que ateava fogo as minhas entranhas. Até mesmo ela se desfalece ante a leveza que sinto agora.

Só faço votos de que isso se mantenha por tanto tempo quanto seja possível. Só desejo poder ficar assim um pouco mais, até me recuperar completamente, sentir que há algo vivo em mim de novo, sentir que ainda há luz onde antes eu apenas enxergava trevas. 

Nenhum comentário:

Postar um comentário