sexta-feira, 25 de junho de 2021

Veritas

Essa é a aquela verdade inconveniente, por trás das aparências, que todos conhecem mas fingem não conhecer. Essa é a aparência que há por baixo da maquiagem, das sombras, dos corretivos, dos ângulos da câmera e da iluminação. A verdade é feia, obscura, cheia de imperfeições, as mesmas que tentamos esconder a todo custo. A verdade não tem a sedosidade de uma pele macia e perfeita, não tem o brilho de um cabelo bem cuidado, não tem o sorriso espontâneo que forçamos ao ouvir o clique do obturador. 

A verdade é feia e eu tento a todo custo escondê-la, o que é inútil pois, não importa o quão maquiado esteja é essa verdade que eu vejo no espelho, é ela que me assombra os pesadelos, é ela que, na melhor das hipóteses, representa a alma putrefata, que pouco a pouco se desfaz na própria miséria, perdendo-se, como a beleza perdeu-se nas manchas, obscurecendo a claridade do olhar num ocre sem vida, quase negro, opaco e triste, as olheiras profundas gritam o descanso impossível de se alcançar, as linhas são testemunhas da depressão que grita como um cadáver. 

As inúmeras tentativas de ajustas essa ou aquela técnica, de usar uma cor aqui para disfarçar esse ou aquele ponto, tudo é inútil. E de que adianta o discurso de que deve-se aceitar como se é? Eu me recuso, pois o que sinto ao me olhar no espelho não é aceitável, é uma garatuja grotesca digna de ser escondida num porão para todo o sempre, era o que queria fazer comigo mesmo, entre as tentativas pífias de melhorar um pouco a coisa com fotos e montagens. 

E tudo isso nós tentamos encobrir, é nossa tentativa débil de lutar contra o que não se pode vender. Algumas pessoas vencem, algumas perdem, outras cantam em blues a sua tristeza. Não quer desejar ser mais bonito seja errado, mas o fato é que olhar para a verdade dói tanto que a nossa única reação é esconder-se, fugir de si mesmo, o que é uma obviedade impossível. 

O niilismo está cansado do homem, mas o niilista está cansado do próprio ser. Não sobrando outra opção cabe a nós cantar como na ópera: "Deixe que eu chore pela minha sorte, e que eu suspire pela liberdade."

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