domingo, 13 de junho de 2021

Dos reflexos da solidão

Acho que descobri o que tem afetado o meu humor nos últimos dias. Com a mudança na minha rotina, me afastando das minhas responsabilidades na igreja, seria inevitável que eu não ficasse cada vez mais sozinho, e pode ser isso que tem despertado os fantasmas em mim. 

Tenho passado muito tempo sozinho, estudando, e isso claro que me deu mais tempo para pensar ou deixar os pensamentos vaguearem, mesmo aqueles que habitam no escuro da mente profunda. O contato com a perspectiva da morte piorou tudo, me dando muitos motivos para ter pesadelos, para perder o sono e a fome, para ser assustado pelos fantasmas do passado e do futuro. 

Essa porta aberta deu passagem para esses fantasmas, que agora colocam ao meu redor os seus braços gelados, me fazendo enrijecer a espinha e acabando com meu brevíssimo momento de tranquilidade. Como sempre disse parece que meu futuro é não ter paz, e a minha única alegria é aquela que liga dois momentos de intenso sofrimento. Agora, além da depressão soma-se outra crescente onda de dores, as dores da possibilidade de um futuro catastrófico, e a cada dia os pensamentos se tornam mais e mais assustadores. 

Parece que a toda do destino começou a girar mais uma vez, e a espada foi lançada, cravando em minha alma a sua lâmina de aço frio, rasgando não só a minha carne mas também todo o meu ser. 

Será a solidão a responsável por isso? Teria ela se disfarçado de esperança para me fazer crer que eu finalmente tinha conhecido a tranquilidade? Parece que foi apenas eu dormir um pouco feliz alguns dias para que ela se livrasse de seu manto verde e agora vestisse a nudez do desespero, do medo que paralisa como a chuva fria chapinhando contra o corpo, como os ventos de um deserto trazendo a voz daqueles que morreram no passado. 

Como falar do horror que simplesmente reler essas palavras já causa na minha alma? E então custo imaginar que em alguns dias mais do que algumas mas todo o sentimento aqui aludido se faz presente no meu ser de tal modo que eu já não posso mais ser eu mesmo, senão que me desfaço ante a esse terror. É como se as palavras tivessem se tornado veneno e tornassem a me atingir quando, aos poucos, voltava a mim. Aquele era mesmo eu? Já não sei mais pois a minha essência se perdeu há muito tempo na confluência de tantos sentimentos, na dicotomia de tantas fases, de tantas depressões, de tantas ansiedades. Como posso me reencontrar senão na suspensão de crença no meu próprio eu que há nas artes? 

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