terça-feira, 1 de junho de 2021

Meu fim

Ultrapassei todos os meus limites, físicos e mentais, eu não tenho a menor condição de suportar mais nada, nenhuma mensagem, nenhum problema, eu não consigo mais, eu simplesmente não aguento mais. Eu já não consigo sequer ler uma mensagem sem cair no choro e as pessoas continuam jogando problemas e mais problemas em cima de mim se eu fosse o único capaz de resolver mas eu não sou, não mais, eu não sou mais nada, eu não sei mais nada, eu não sei flutuar, eu não estou mais nem mesmo sobrevivendo, eu estou apenas existindo, vagando sem rumo, sem saber o que estou fazendo e repleto apenas de inseguranças, medos e a única certeza possível de que eu sempre vou falhar. Isso porque sempre que eu faço algo, algum detalhe sempre dá errado, e me cobram por isso como se fosse a coisa mais fácil do mundo, mas eu não consigo mais prestar atenção, eu não consigo mais, se tornou muito além das minhas capacidades. E todos ainda esperam que eu consiga preparar a missa de Corpus Christi daqui há dois dias, sem nenhum defeito, e eu sei que muitas coisas vão dar errado, eu sei porque por mais que eu venha tentando preparar tudo, algo vai escapar do meu planejamento e isso vai significar o meu fim. O meu fim porque eu não sei se consigo nem mesmo chegar até lá. Já venho dobrando a quantidade de calmantes há dias e ainda estou em péssimo estado. Meu braço está repleto de cortes, que eu fiz sangrar para conseguir alguma reação do meu corpo, e nada, eu só consegui me sentir ainda pior. Eu estou desesperado e alguns ainda dizem que eu preciso dividir o fardo, mas como eu posso fazer isso se no fim das contas sou eu quem precisa resolver o problema da reunião que começou fora do horário sendo que eu nem estava presente, se sou eu que preciso ir comprar as coisas quando outros vão nos mesmos lugares e sabem das mesmas necessidades? Como eu posso dividir se todos os problemas dão uma volta ao redor de si e retornam pra mim? E eu já não aguento mais isso, senão que entrei no completo frenesi da loucura, em desespero pelos próximos dias, ao mesmo tempo temendo e desejando a morte, um modo de tudo isso acabar e eu não sentir mais nada. Eu só queria conseguir me anestesiar por completo, só queria poder apagar, sem me preocupar se a costureira vai ou não conseguir entregar as coisas com tempo, se a outra vai conseguir fazer as peças de acordo, se o padre vai ficar feliz com a forma, se eu vou conseguir cantar direito amanhã a noite, mesmo sozinho, eu só queria poder parar de me preocupar com tudo isso, porque cada uma dessas coisas é um golpe de martelo pesado sobre as minhas costas, é uma trombeta que anuncia o fim do mundo, é um celeuma, é um desespero que se manifesta no meu corpo com dores, tremores, lágrimas e linhas de sangue que escorrem pelo meu braço, numa tentativa de materializar a dor e, dessa forma, obter algum tipo de controle num transe psicótico. E eu só consigo dizer isso: estou além do meu limite, eu não consigo mais, se alguém não em ajudar eu vou morrer, eu vou colocar um fim em tudo isso, eu não tenho mais condições de continuar insistindo em viver dessa forma. Eu não consigo mais. Eu não aguento mais. Não há mais poesia, não há mais filosofia, há apenas dor, escuridão, desespero. É o meu fim. Eu não consigo mais, eu não aguento mais. 

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