sexta-feira, 18 de junho de 2021

Julgamento da Verdade

Quanto já foi dito por mim sobre a solidão? A quantidade de palavras que eu já usei pra descrever o que sinto sobre a solidão são suficientes pra publicar num volume do tamanho da Bíblia. Mas essa ainda, mesmo depois de tudo isso, ainda é uma experiência tão viva na minha alma que muito mais poderia dizer sem nunca esgotar-se o que sinto, sem nunca chegar ao fundo, senão que, como também já o disse, as palavras apenas tocam a superfície desse oceano de impressões, sendo apenas uma gota aquilo que eu consigo expressar. 

A divergência de opinião pode significar a separação do homem entre os seus? A divergência de opinião é apenas um sintoma de uma divergência interior, mais profunda, que se dá num ponto essencial, do qual não há como fazer concessões, como as fazemos no plano da mera opinião. 

Okay, quando um prefere azul e o outro rosa há apenas uma divergência sobre algo bobo, que não tem assim tanta importância, mas quando a diferença está no campo das coisas mais importantes do ser o cenário muda completamente. Amizade é querer as mesmas coisas e rejeitar as mesmas coisas, diziam os escolásticos. Como ser amigo de alguém que diverge não apenas das opiniões mas também das convicções mais profundas ou que, antes disso, sequer as compreende antes de divergir? Isso porque todos somos confrontados o tempo todo com um universo que exige de nós um senso de proporções, que é o que dita as nossas prioridades mais básicas até aquelas opiniões mais e mais superficiais. 

A expressão verbal, seja da convicção profunda quanto da opinião simples é sempre a mesma, se dá no âmbito da comunicação e, embora contenha sim tanto a profundidade de uma quanto a superficialidade da outra, não consegue, no entanto, se dar no mesmo plano. O que quero dizer é que, a verdade mais profunda da alma de um homem, ao ser recebida por um outro que só consegue expressar as banalidades da sua vida em meras opiniões vai tomar aquela verdade também como opinião. Sendo assim a comunicação já não é mais possível: não estão mais falando sobre a mesma coisa. 

Com isso nos fechamos no nosso mundo, de convicções e opiniões, enquanto tentamos, em vão, dizer algo disso aos outros. Mas esse é um espetáculo patético, realmente digno de pena. Os homens não podem se entender. 

Vivemos então a experiência da solidão em sua totalidade. Estamos sozinhos, em nossa mente, em nossa pele, e isso não pode se transpor. Estamos dentro desse Campo de Terror Absoluto que é a nossa consciência, nos levando pouco a pouco a loucura, que lentamente transborda também em palavras, estas por sua vez travestidas de belas opiniões, levando assim a loucura aos outros tantos que nos cercam. Daí o sentimento de que vivemos em tempos de loucos, todos estão mais ou menos mergulhados num oceano de insanidade que expressão com a convicção as suas opiniões mais torpes, absurdas em sua maioria, convencidos de que é um posicionamento real quando não passa da expressão imediata de um sentimento, dos mais banais muitas das vezes. Daí a loucura ter se instalado no meio de nós. Daí a sensação geral de que todos estão em plena histeria coletiva, o tempo todo, seja numa conversa casual entre amigos ou nas redes sociais lá está ela, a loucura vestida de opinião. E as convicções? Ficaram excluídas nos círculos intelectuais que poucos se aventuram a entrar e, quando uma delas consegue chegar aqui, é tomada como loucura, como se a loucura não fosse exatamente o que nos faz jugar a verdade assim. 

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