sexta-feira, 18 de junho de 2021

Do ser e sua existência

 A razão da existência. A razão que permite a alguém ser.

A razão, misteriosa, que paira de modo perene sob as nossas cabeças, no sobrecéu, no hiperurânio inalcançável ao homem que vive na imperfeição da realidade terrena. A razão que permite alguém ser, que o guia com uma luz mais clara que a do meio-dia. que não permite que ele desvie o olhar de seu objetivo, de sua obstinação. A razão que permite alguém cruzar um caminho de que deseja encontrar e algum lugar as respostas para as suas perguntas mais íntimas, aquilo que dá total sentido a sua existência. Tal coisa existe? Se existe pode ser alcançada? 

Viver sem rumo, sem saber o que se quer. Realização pessoal advinda da aprovação externa? Aprovação pessoal advinda da realização de algum objetivo bem delimitado que fora alcançado. Mas e quando não se sabe que objetivo é esse? A resposta mais óbvia seria tentar então descobrir, mas não me parece tão fácil.

Inicio as minhas investigações com base nos meus interesses: conhecimento, verdade, correção dos erros mais comuns de percepção que me incomodam, que geram nos outros a reação imediata e sentimental que inviabiliza a discussão verdadeira.

Não me entenda errado, eu tenho aspirações intelectuais, respostas a serem alcançadas, questões que preciso de respostas com urgência, e que, no entanto, convivem em harmonia com o fato de que preciso de tempo e paciência para seguir, mesmo sabendo que o conhecimento total é impossível, exceto para Deus. 

Mas isso me preocupa. O que eu tenho? Buscado formar laços? Mas eu tenho fugido de relações mais profundas, tenho fugido do outro, tenho fugido das perguntas. Isso porque meu interior já me traz impressões demais para serem analisadas, o que me torna impaciente em se tratando das experiências exteriores que me apresentam como a mais pura amostra da simplicidade. E eu não busco, intelectualmente a simplicidade, mas apenas a verdade, por mais complexa que seja e por que eu não consiga absorvê-la ou transmiti-la. 

O problema é que isso também gera um vácuo existencial pois, enquanto os outros avançam em seus projetos eu me dedico a estudar coisas que ninguém mais tem interesse. O que me dá a profunda sensação de inutilidade, de ser um grande imprestável, pensando em coisas abstratas demais para que compreendam, muito embora o enfoque do meu estudo seja especialmente compreender, na medida do possível, a realidade. É um amalgama de ser e não ser, conhecer e ignorar, uma batalha constante entre a razão que permite a alguém e o nada. 

Você ta mentindo! Você é idiota? Você sabe muito bem que faz isso por você mesmo! Você só ta inventando desculpas como sempre faz!

- Eu faço isso?

 - Fingindo que ta se sacrificando pelo bem dos outros é só outra desculpa. Bancar o mártir te faz se sentir especial. 

- Eu não sei se isso é verdade...

 - Está se sentindo solitário e isolado, só isso!

- Estou?

 - Claro que está! Você vive de compaixão e consegue isso com seu EVA Shinji!

- Isso pode ser verdade...

 - Você adora que os outros dependam de você e isso satisfaz sua pequena mente distorcida!*

Eu queria ser útil a esse ponto. Salvar a humanidade, realizar grandes feitos, ter pessoas que dependam de mim e ser responsável por elas. Mais importante: ser forte a ponto de conseguir proteger. Queria que meu vazio fosse preenchido da gratidão dos outros por mim. 

Mas quanto sofrimento eu posso suportar? Uma fração infinitesimal, o que não é nada diante do todo. Fraco demais, covarde demais, depressivo demais.

Quando o sofrimento do outro toca o meu coração eu já não quero pensar em mim, mas apenas no que fazer para ajudar. Quando o sofrimento do outro toca, é hora de abandonar-se e ir ao encontro dele. Eu queria ser útil, entrar num robô gigante e salvar um mundo. Queria ser um escritor que, lido por muitos consegue deixar sua marca na alma de tantos homens e mulheres que nunca tiveram contato comigo mas que, no entanto, pensam com base naquilo que disse. 

A busca por essa razão que permite a alguém ser é pavorosamente dolorosa. É, de fato, uma grande noite escura de amor em vivas ânsias inflamada!

~

*Nota: Texto em itálico retirado de Neon Genesis Evangelion, episódio 25. 

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