terça-feira, 26 de abril de 2022

Em algum lugar

Vem aumentando a vontade de me isolar numa casinha no interior, de frente pra uma bela paisagem com um violão e simplesmente ficar cantando, sobre coisas alegres e tristes, sem ninguém pra me interromper, sem ninguém pra me fazer pensar, sem coisas a mais pra me distrair, sem um monte de informações pra processar. Sem grosserias, sem exigências, sem ingratidão... Somente a minha voz e um céu claro, eventualmente um pássaro voando e o balançar das árvores e, claro, o infinito horizonte onde posso me lançar em sonhos e devaneios, sem que ninguém venha violentar a minha vontade. Só queria sentir a liberdade da solitude, de estar comigo sem precisar lutar com nada e nem ninguém. 

Tudo que eu queria era ajudar, ser melhor, tornar as coisas mais belas. Mas em algum ponto eu me perdi. Me perdi de mim mesmo. Não consigo agradar, ser bom o bastante, continuo sendo repreendido. Por isso eu queria deixar de ser um peso, queria sumir, voltar ao nada...

Mas, existem tantas coisas que me impedem de desaparecer. Infelizmente não é possível que eu me desfaça numa nuvem de pétalas de flores de cerejeira, ainda tem aquele sorriso bonito que eu consegui tirar de um menino especial antes da missa que faz meu coração bater mais rápido, ainda existem músicas que eu gostaria de cantar. 

Consegue perceber o quanto eu estou à margem da vida? Não tenho objetivos ou metas a cumprir, só continuo sorrindo gentilmente pra quem se aproxima de mim, e ajudo no que posso, seja ficando em silêncio ao lado de quem precisa ou tentando tornar uma missa mais bonita e organizada, é o que eu posso fazer. Mas não é como se eu ainda estivesse tentando, eu já desisti de tentar, de sonhar. 

Fico sozinho, penso no sorriso doce que ele meu deu antes da missa, lembro das histórias de amor que eu posso ver quando chegar em casa, nas músicas que posso ouvir antes de dormir num sono artificial e isso me basta, não vejo como a vida pode me oferecer mais do que isso. 

Busco entender um pouco mas não compreender totalmente as verdades metafísicas, os princípios fundamentais e axiomas, o trabalho do Kalam, da Filosofia Escolástica e da Filosofia Especulativa que eu começo a investigar lentamente, mas isso é algo que acrescenta à minha alma, que aumenta minha capacidade de penetração da inteligência nas coisas, é algo pra eternidade, e não para agora. O agora é permeado de tédio e terrores. E eu já aceitei que as coisas são assim. 

Talvez aquele sorriso me faça conseguir levantar mais um dia, a isso posso chamar de esperança? 

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