quinta-feira, 21 de abril de 2022

Laço

Escrevendo porque não quero incomodar ninguém que eu conheço com o significado dessas palavras, tão contraditórios a mim mesmo que pareceriam loucura aos outros. Mas para mim não, estou ciente das tensões que permeiam o meu ser e das vontades que brigam dentro de mim pela posse das minhas ações. 

Em noites como hoje eu tenho vontade de sair por aí sem rumo, como muitas vezes fiz, e fui parar em lugares aleatórios como o Parque da Cidade ou o Pontão do Lago, a questão é: eu não estava sozinho, alguém me acompanhava enquanto eu fazia reflexões ou apenas ficava em silêncio, aproveitando a brisa da noite e as luzes das casas ao redor desses lugares. Em noites como essa eu gostaria de ver um filme ruim, um daqueles gênero terror bem chatos e que não assustam ninguém mas gera divertidos comentários. Mas eu sorrio levemente e me lembro de que estou sozinho, e mesmo que ainda tenha alguns episódios de BL salvos pra assistir não é a mesma coisa. 

Muito embora eu tenha optado pela solidão em alguns momentos ela se torna um laço apertado ao redor do meu pescoço. 

Estou então em estado de confusão: não sei se preciso aumentar o antidepressivo, se preciso me apaixonar novamente ou simplesmente arrumar um emprego. Não sei como fazer para conhecer novos amigos, visto que nenhum dos antigos parece mais caber em minha vida, e eu nas deles. 

Por isso me vem também uma ânsia de revolta: eu sei que nenhum deles se importa, por mais que pareçamos próximos tudo pode acabar de um dia para o outro, com um segredo revelado e uma traição manifestada. A dor que fica no meu peito não dói neles pois eles tem quem os console. Percebo então que estar sozinho, no meu caso, significa também estar paralisado e não conseguir seguir em frente de maneira alguma.

Em noites como essa eu gostaria de sair sem rumo, mas é aí que percebo o quão sem rumo eu já estou. 

"Ah! Eis que um clamor se ouviu por toda Ramá; lamentação, amargura e muito pranto: É Raquel chorando por seus filhos; não quer consolação, porque eles já não existem!” (Jr 31,15)

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