segunda-feira, 25 de abril de 2022

Sem sinais

Ela veio sem nenhum aviso, não houveram sinais e nem rumores, ela apenas chegou drenando as minhas forças e silenciando o mundo ao meu redor, me colocando no escuro e me deixando sozinho. E assim ela chegou, silenciosa porém destrutiva como um tsunami.

Depois de mais de um mês num episódio misto por causa da suspensão da minha medicação eu entrei na primeira crise depressiva dessa fase, e agora preciso lidar com ela, e com minhas obrigações, sem a ajuda de nenhum remédio. 

O que me vem é aquela vontade de desligar o celular, ligar o som num volume alto e fingir que o mundo não existe, dormir e esperar que ela passe, que eu recupere a visão de sombra e luz que tinha até então. Só queria desaparecer, como as notas que somem no ar ao fim de uma bela canção, deixando apenas a impressão no coração de quem ouviu, queria ser a derradeira nota de uma sinfonia da vida, desse adágio lamentoso que começou com a chegada da melancolia que dormia no íntimo do meu ser. 

É isso, não me restaram forças pra terminar de escrever, pra elaborar isso de uma forma poeticamente memorável, não me restou nada, ela veio de novo e levou tudo. Eu vi a luz desaparecer lentamente no horizonte, senti cada fibra do meu corpo ceder sem possibilidade de revidar, sem chance de me levantar e lutar contra. Ela simplesmente me agarrou e me levou pro fundo do oceano, e sinto que só o que poderia me resgatar seria um abraço apertado, uma companhia silenciosa, alguém ao meu lado nessa noite escura. 

Olhei pela janela afora e vi um emaranhado de fios numa bagunça, e senti que o mesmo se passava dentro de mim, que pouco a pouco as coisas foram se enrolando até que o início e o fim já não pudessem mais ser distinguidos. 

De repente eu olho com pesar o dia de amanhã, já de luto por precisar sair da cama e ver outras pessoas, dar ordens, ouvir sermões, quando só queria o silêncio do meu quarto. De repente eu precisei me apoiar na parede pra não cair no chão. E de repente tudo retorna ao nada. 

"Olhe profundamente dentro de si mesma. Você nota a presença quase intangível e invisível que espreita sob o seu desperto no interior dos seus sonhos mais sombrios." (Neon Genesis Evangelion)

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