quinta-feira, 7 de abril de 2022

Instante de Inspiração

Curioso esse momento do processo criativo que a mente tenta recriar aquela inspiração de instantes atrás que não pode ser registrada imediatamente, é como tentar reacender uma centelha que, num átimo de segundo brilhou e resplandeceu, apagando-se logo após e nem mesmo restando as sombras da sua luz para que fique registrada. 

Esses momentos especiais servem para dar ao coração uma nova carga nas suas batidas, são uma inspiração fugidia que vem e desaparece num piscar de olhos deixando apenas a impressão, um calor que pouco a pouco se espalha derretendo o que antes era uma enorme geleira no âmago de um poeta. 

Um amante só precisa do amor de seu amado, afirma aquele que esperou por doze anos para ter seu sentimento reconhecido, e agora agarra-se a ele, pois é o que faz a sua vida ter sentido, é o que faz acordar todas as manhãs com um sorriso no rosto por ver ao seu lado aquele que ama e, ao acordar, aquele instante em que ele observa o semblante tranquilo do amado adormecido é eternizado no seu coração, como se fosse marcado a fogo no profundo do seu ser. E então ele estende a mão e carinhosamente toca uma mecha de cabelo do outro, que lentamente desperta e esboça um leve sorriso, é um novo dia, e ali, naquele recanto, em seu jardim fechado frui desde as entranhas as águas da fonte cristalina de seu amor. 

Momentos que passam sem jamais voltar atrás, a mesma inspiração do poeta que, ao caminhar e ver uma borboleta pousar numa flor é transportado em espírito para um mundo completamente diferente, onde ali contempla uma beleza sem igual e, ao piscar dos olhos, sua visão se esvai na velocidade do bater de asas da borboleta que alça voo e vai para longe dali, em leves rodopios pelo ar. 

É como as longas pausas do Prelúdio de Tristão e Isolda que dão sentido ao conjunto poderoso da orquestra que avança lentamente como os movimentos da alma, uma pausa, um silêncio, que completa o que todos os instrumentos demonstram com sua paixão. Precisamos desses momentos de silêncio, mesmo que a inspiração pareça se perder no ar, mesmo que ela pareça se esvair é algo que permanece no coração, uma impressão, um sentido daquilo que há de mais elevado, algo anterior a própria experiência, algo do Logos que se imprime permanentemente na alma. 

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