quinta-feira, 21 de abril de 2022

Pela mão

Consegui nesse feriado retomar as leituras espirituais que tinha deixado de lado algum tempo atrás, por conta de uma certa dificuldade em compreender tão altas realidades ali tratadas e, embora tenha compreendido o que li isso só me deixou ainda mais consciente da distância que estou em conseguir alcançar estágios mais elevados de oração.

Muito embora esteja há anos caminhando continuo tão inseguro quanto uma criança que começa a dar os primeiros passos, tenho dificuldade de silenciar a mente e me concentrar no Divino. A liturgia me ajuda muito nesse sentido mas, por outro lado, temo que o barulho provocado pelas minhas preocupações com ela ainda me desviem do que é realmente importante. 

Encontro então uma barreira que me impede de evoluir, a caridade ainda falha e não consigo unir meu coração as palavras que profiro na oração. Aqui me vejo limitado aos livros de oração, especialmente ao saltério, que me dá palavras onde eu mesmo só consigo balbuciar, ao passo que com eles consigo dizer o que se encontra em meu coração, tomando emprestadas as palavras sagradas. 

Sei que muitos santos passaram por essa dificuldade por anos, por isso eu não desanimo, e continuo insistindo na oração vocal e na oração litúrgica, o apoio da comunidade completa o que falta ao meu coração. Como se fosse uma longa noite escura eu tento sobreviver a aridez. Digo como se fosse porque a noite escura é própria de almas mais elevadas, e eu sei bem que não me encontro entre elas. A minha aridez vem diretamente dos meus pecados e dos meus vícios. Mas livros me ajudam a rezar com as mesmas palavras que a Igreja rezou através dos séculos e essa é minha garantia de que estou no caminho certo. 

Claro que isso não diminui o meu desejo de me unir mais profundamente ao Amado, de cruzar as escadas na Noite Escura e encontrar com ele no jardim fechado da minha alma, no entanto, enquanto isso não acontece, eu continuo a me apoiar na Igreja e deixar que ela me tome pela mão e me conduza no caminho da oração, até que um dia, quem o sabe, meu coração possa se abrasar em união com o Amado.

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