sábado, 30 de abril de 2022

Caminhos distintos

 "Fui esquecido dos corações como um morto, fiquei rejeitado como um vaso partido." (Sl 30)

Não é de hoje que eu sinto que algo se quebrou dentro de mim. Lembro bem dessa sensação quando aquele relacionamento conturbado terminou e eu senti como como se um cristal tivesse se partido em milhares de pedacinhos que jamais poderiam ser colados novamente. Mas agora o que eu sinto não é como se apenas uma relação tivesse se quebrado, mas sinto que eu mesmo estou partido. Parece que tornei-me nada mais do que aquela imperfeição fundamental, exposta como uma ferida aberta a todos que passam e desviam o olhar. 

Já não me encontram mais entre os sorrisos e as brincadeiras, estou sempre sozinho, soturno absorto em minhas próprias histórias e pensamentos. Já não me junto aos outros, para quem me tornei estranho, e de fato o sou. Já não compartilhamos mais dos mesmos interesses, já não rimos das mesmas piadas. Os caminhos que tomamos são tão diferentes que já não se cruzam mais, e eu nem de longe consigo ver suas centelhas. Apenas vez ou outra escuto suas risadas altas, mas elas logo se calam, e eu volto ao silêncio e a minha solidão. 

Eles já não se lembram de mim, tornei-me estranho demais para que me reconheçam, já não sabem o que eu faço ou busco, e os ideais de minha vida são demasiado abstratos para que consigam entender o que é importante pra mim. 

O restou foi apenas a lembrança daquilo que fomos um dia, nossas risadas noite à dentro eternizadas em alguma parede da história universal, mas é só isso, porque todo o resto se desfez e desapareceu como poeira ao vento.

Eles não me entendem mas eu sim, compreendo que cada um trilhou o que achou certo para si e eu, igualmente o fiz, acabei me afastando cada vez mais, por causa dos caminhos que tomei. Eu matei minha vontade e me tornei um defunto para eles, que viraram o rosto em agonia.

Não lamento, não os amaldiçoo, apenas reconheço que o tempo se encarregou de nos encaminhar para lugares diferentes, eu ainda buscando meu lugar, em busca de um objetivo e eles também, cada um em busca da própria realização, seja ela qual for, mas que não tem mais nada a ver comigo. Foi um tempo bom que não volta mais, e está tudo bem, um vaso partido já perdeu sua utilidade e estou ciente da minha incapacidade.

Outros, no entanto, cravaram a adaga da traição nas minhas costas e, uma vez livre desse ataque eu escolhi apenas seguir em frente. Claro, a ferida ainda dói, mas eu não desejo retornar para quem me machucou, quero apenas seguir sem olhar para trás. Nesse caso basta o meu absoluto desprezo, o desviar do olhar, até que eu esqueça de suas existências porcas e miseráveis. 

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