Resenha - The Miracle of Teddy Bear

Contém SPOILERS!

Quando o CH3, um dos maiores canais da Tailândia, anunciou seu primeiro lakorn (formato das novelas tailandesas) com conteúdo BL as atenções logo se voltaram para ele. The Miracle of Teddy Bear é baseado numa novel e foi adaptado e exibido em horário nobre, recebendo muitas críticas e elogios, por se tratar de um canal predominantemente conservador no país. 

Ele conta a história de Tofu (In Sarin Ronnakiat) um ursinho de pelúcia que ganha vida e passa a viver com seu dono, o colérico Nut (Job Thuchapon) e sua mãe, a frágil Mathana (Um Apasiri). Sem saber como se transformou em humano, todos acham que é um jovem comum que perdeu a memória. Misteriosamente ele tem a mesma aparência de Nueng, antigo veterano de Nut e sua primeira paixão na escola. 

As diferenças entre The Miracle of Teddy Bear e os BLs aos quais estamos acostumados é gigantesca, a começar pelo formato, já que os episódio contam com uma hora e meia de duração. Isso significa um mega desenvolvimento dos personagens, e é justamente aqui que ele mais se destaca, as emoções são fortes do começo ao fim.

Quando Tofu é aceito na casa de Nut como cuidador de sua mãe, ele passa a conviver com a conturbada família e, pouco a pouco começa a entender os dramas que eles escondem. Acontece que a relação entre mãe e filho é extremamente delicada e os dois trazem consigo feridas e mágoas profundas, que acabam vindo à tona conforme a história avança. 

Também somos apresentados a Saen (Chai Chatayodom) tio de Nut e irmão gêmeo de seu pai, o violento Sipmuen, um oficial do exército que não aceita a sexualidade do filho e trata ele e a mãe com extrema aspereza, sendo causa de muitos conflitos e traumas por isso. 

A série também um casal secundário, formado por Song (Tee Thanapon Jarujitranon, de 2Moons), um irmão de Nueng, e Kensit (First Parada), colega de trabalho de Nut. Kensit é seguro de sua sexualidade, mas não gosta de rapazes mais novos por conta de como terminou seu último relacionamento, e se irrita quando vê que Song começa a se interessar por ele, ao passo que o mais novo demonstra a maturidade que o outro acredita que os jovens não podem ter.

O mistério da transformação de Tofu em humano é ainda maior quando descobrimos sua ligação com Tatharn (Judo Tantachj) que teve uma relação íntima com Nut no colégio e que foi brutalmente atacado, ficando em coma no mesmo momento em que o ursinho se transformou. 

Daí temos alguns mistérios a serem resolvidos: como Tofu se transformou e qual sua relação com Nueng e Tatharn? Quem atacou Tatharn e com que motivação? Que segredos dolorosos Nut e sua mãe trazem de seu passado que ainda doem tanto no presente? 

Esses são alguns dos pontos explorados na série com uma maestria de roteiro impressionante. Apesar dos episódios longos a história fica longe de perder o ritmo e todos os episódios são marcados por equilíbrio entre cenas fofas e reviravoltas impressionantes, como é comum nos lakorns. 

A fotografia e a trilha sonora são belíssimas e ajudam na construção de cenas realmente comoventes, o Bl emociona de verdade em vários momentos, bem como também traz alguns pontos leves e até engraçados e claro, muitas vezes românticos, já que Tofu toma pra si a missão de cuidar de Nut e o quer fazê-lo como seu namorado, ao que o outro recusa a princípio, mas não demora a ceder aos encantos do ursinho. 

Tofu é meigo, inocente e atencioso, enquanto Nut é dedicado ao trabalho e parece se estressar com todo assunto que tem a ver com sua família, preferindo ficar distante de sua mãe, mesmo se preocupando muito com ela. Com o tempo Tofu consegue fazer com que ele se abra e ele revela que sua personalidade forte e agressiva é resultado da sua atribulada infância e adolescência, com o pai violento e a mãe que não conseguia se opor a ele e que também sofria nas suas mãos.

É impossível não se apaixonar pelo jeitinho doce do ursinho, e de suas trapalhadas descobrindo o mundo humano, como andando pela primeira vez numa escada rolante ou visitando um parque de diversões. Já Nut divide opiniões, mostrando-se um personagem complexo, com um passado traumatizante, mas que ainda tem um coração quente e que precisa de amor pra desconstruir a armadura que ele criou ao seu redor para se proteger. Além disso temos também os conflitos da mãe de Nut, que tenta dar o seu melhor, mesmo tendo uma saúde debilitada mas sendo extremamente preocupada com o bem estar do filho, e acolhendo com carinho Tofu, a quem ela chama de Pequeno Príncipe. Aliás a obra é repleta de referências ao livro de Saint-Exupéry, trazendo aquele clima de lição profunda que o livro tem, inclusive num final claramente inspirado na obra.

Com essa abordagem profunda do passado e da personalidade de cada personagem, The Miracle of Teddy Bear se mostrou uma grata surpresa como um dos melhores BLs já produzidos, com uma história bonita e cativante, que emociona desde o primeiro episódio numa trama complexa e intrigante, que nos faz apaixonar e sofrer na pele de cada um. 

Com um final controverso que mostra a força do amor e sua capacidade de se sacrificar para ver o outro feliz, a produção mostra uma sensível mudança no cenário da Tailândia, ao desafiar as críticas de que uma série com conteúdo homossexual não deveria ser exibida em horário nobre em rede nacional ela rompe paradigmas quebrando a bolha dos BLs exibidos apenas no streaming, atingindo um público maior e trazendo à tona discussões importantes como a aceitação dos casais gays e a legalização do matrimônio homossexual num país onde, nas palavras do próprio Nut, "exporta séries BLs, tem as trans mais lindas do mundo e ainda tem os casais gays mais famosos da internet mas não lhe concede os mesmo direitos que os heterossexuais". 

A série é, portanto, uma parada obrigatória pra quem procura uma história completa, com um roteiro incrível, atuações excelentes (Sarin e Job dão um show de atuação e química) e uma história feita pra encantar e refletir. Sem dúvida um dos melhores BLs de todos os tempos!

Nota: 10/10