quinta-feira, 26 de maio de 2022

Na cama

Não saí da cama hoje, preferi ficar deitado o dia todo, sem ânimo pra ver gente ou fazer qualquer outra coisa. Até a aula eu precisei ouvir três vezes e ainda não sei se consegui entender. As mensagens se acumulam e eu não sei quando vou ter disposição para responder. Embora a onda de frio da última semana já tenha passado ainda está fresco o suficiente para que eu fique embaixo das cobertas, me escondendo do mundo. 

Meus pés estão gelados, e parece que há um vazio entre meus braços, eu queria o abraço de alguém, assim essa cama não pareceria tão grande assim. Queria um abraço apertado, ouvir o coração do outro batendo enquanto minha cabeça repousa sobre seu peito, sentir o seu cheiro mais uma vez, entrelaçar nossos dedos. Mas não há ninguém, eu estou sozinho aqui, e isso é tudo. 

Parece que esse espaço nunca será preenchido, e eu deveria fechar meus braços, mas eu faço isso sem nem mesmo perceber, e quando percebo estou de braços abertos esperando alguém que sei que nunca vai chegar. Meus braços precisam se envolver ao redor de alguém, e eu sei que é patético ser carente a esse ponto mas infelizmente é o que há de desejo em meu coração. E é também com um sorriso irônico que eu contemplo minha própria miséria em, conhecendo tantas verdades superiores, ainda desejar ao meu lado um homem, a mais patética e digna de pena das criaturas. 

Além tem o despertar da besta, que assume a minha forma enquanto vou me consumindo em chamas lascivas, cada vez mais destrutivas, e a besta ameaça devorar tudo o que vê pela frente, e somente descansa quando faz inúmeras vítimas, cravando bem fundo as suas garras e presas, deleitando-se na carne e sentindo o sabor quente e doce do sangue daqueles que padecem diante de sua fúria. Uma vez desperta eu sinto-me dominar por esse demônio que só guia-se pelos seus instintos mais primitivos. 

Em dias assim eu já não me reconheço mais como homem, me torno fera que destrói tribos, demônio que se liberta das amarras na prisão profunda do coração, besta que não pensa mas apenas deseja, caça e abate. 

Como posso fugir desse monstro se ele é apenas uma versão de mim? Por ventura posso eu fugir de mim mesmo? É o que venho tentando fazer, não apenas fugir mas sufocar essa fera, lançar nela as setas de verdade e prudência que me são necessárias para a vida correta e justa e novamente feri-la a ponto de conseguir aprisiona-la de novo no profundo tártaro do meu peito. 

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