sábado, 7 de maio de 2022

Das Paixões

Venho contar brevemente uma experiência comum a muitos, algo que atinge um número incontável de pobres almas que ficam a mercê de seus sentidos mais baixos e já não conseguem mais nem mesmo reconhecer-se.

Nas madrugadas é como se um demônio tomasse posse das vontades do homem, suas paixões tornam-se a única coisa diante de seus olhos, e os seus desejos luxuriosos o transformam num lobo faminto, sedento por enfiar seus caninos afiados na carne de sua pobre vítima. 

O homem deixa de enxergar, tudo torna-se vermelho, e ele se lança as imagens mais torpes, aos ambientes mais imundos que a mente humana pode imaginar, ele se farta das delícias mais podres, como se chafurdasse num lamaçal malcheiroso lançando sua alma num rio de enxofre, sendo devorado pelo próprio demônio que alimenta essas vontades fazendo da sua imaginação um campo onde lançam-se as ervas mais daninhas. Nesse campo ele perde a sua forma humana e assume a posição de fera, correndo e uivando, entregue a bestialidade. 

Essa é uma das expressões mais fortes da queda do gênero humano. Aquele que um dia foi imagem e semelhança da perfeição, do Logos divino, agora é apenas semelhança dos animais que não resistem aos seus instintos mais baixos. 

E então cada fibra do corpo desse homem vibra em prazer, ébrio em suas fantasias, até que, fartando-se, vê um quadro em branco, enche-se de vazio e, ao abandoná-lo a luxúria, ele vê toda a dimensão de sua podridão, percebendo que entregou-se aos engodos de fantasmas que apenas o rodearam para lhe incitar as sacanagens mais nojentas que se pode ter ideia. Lhe sopram então essas ideias e o homem as admite como sendo de seu próprio coração, quando na realidade o que ele faz é cortar as fibras de seu próprio coração e dar como alimento aos demônios. 

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