quarta-feira, 25 de maio de 2022

Destruição

O mundo virtual foi criado para destruir a inteligência e, se não pudesse ser usado para ter acesso a conteúdos relevantes poderia muito bem ser essa uma verdade irrefutável. Acontece que o uso que fazemos dos meios de comunicação impactam diretamente na nossa capacidade de penetração da inteligência nas coisas. 

As últimas semanas foram marcadas por um longo episódio misto e, com isso, eu passei muito mais tempo conectado que o habitual. Acabei pegando o costume de ficar horas passando de um vídeo para outro e, de conteúdo cada vez mais esparso, fazendo com que minha concentração diminuísse drasticamente, e isso no espaço de umas poucas semanas, destruindo o que levei anos para conseguir erguer.

Tenho dito dificuldade para ler, muita dificuldade, e nem me refiro a livros complexos de filosofia ou mística cristã, mas até mesmo simples artigos de polêmica jornalística ou política tem sido de difícil digestão, eu simplesmente leio e nada fixa e só com muito custo eu consigo atinar com o que está sendo dito, não raramente o conteúdo se mostrando simples quando me obrigo a ler pela quarta ou quinta vez. 

E enquanto isso multiplicam-se as dancinhas, as edições com cenas de séries e trechos de música, coisas banais que, podem até servir como distração num momento onde não há absolutamente nada melhor para fazer, mas que jamais deveria ocupar tanto tempo assim. O mesmo da vertiginosa carga de besteiras escritas sem nenhum propósito maior do que o de expressar as impressões mais banais, superficiais e temporárias, num volume absurdamente infinito que é o Twitter. Tudo bem usar para partilhar aquelas opiniões quando vejo uma série ou outra mas, passar o dia acompanhando discussões inúteis é absurdamente prejudicial a minha inteligência. 

Pelo menos consegui me dar conta disso depois de alguns dias, e posso pouco a pouco trabalhar para reverter essa situação. Não demora, por exemplo, ao volume de informações congestionar o meu pensamento, que precisa processar tanta coisa de pouquíssimo ou nenhum valor. 

Por isso reconhecer essa dificuldade já é o primeiro passo para retomar a uma vida intelectual equilibrada, concentrar os meus esforços naquilo que de fato é importante, e forçar a minha vontade a se voltar para onde eu posso encontrar a Verdade, e não para a miríade de coisas criadas com o único propósito de tirar o meu espírito do reto caminho. 

O espírito precisa constantemente ser guiado de volta para a luz, como disse S. João da Cruz, a luz que guia com mais clareza que a do meio dia. Ele precisa se apartar dos muitos espíritos que o assolam na noite escura e retornar para a clareza da Verdade, esquecer a casa deixando a sossegada e entrar no jardim secreto onde habita o Amado. Para isso é necessário voltar ao deserto, passar pela secreta escada disfarçada, subir o monte. 

É também momento de uma prece, como diz o canto que eu tantas vezes puxei em alta voz: "volta meu povo ao teu Senhor, e exultará teu coração, ele será teu condutor, tua esperança de salvação."

Meu coração se desviou do caminho, tomei outra direção, e me perdi pela estrada, agora preciso voltar meu olhar ao céu e tomar como guia a estrela da sabedoria, a única que pode me devolver alguma esperança real, que pode me fazer ter um objetivo a alcançar.   

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