domingo, 22 de maio de 2022

Penumbra

Começou em meu sonho e, quando acordei, não me reconhecia, de repente era um outro a tomar conta do meu ser. Minha visão foi tomada por uma lente, eu não via mais com clareza, e passei apenar a enxergar as chamas luxuriosas e bruxuleantes de um mundo obscuro e úmido. Ouvia gemidos baixos, mas intensos, e então percebi que escapavam dos meus lábios. Minha respiração ficava mais rápida e eu sentia como se algo entrasse em meu corpo, o calor se intensificando e as imagens na minha cabeça mais e mais claras. 

É como se sentisse a mão dele no meu corpo, e podia ouvir claramente a sua voz dizendo sacanagens em meu ouvido, tanto desejo não confessado, naquele campo, em meio algumas árvores e plantas mais altas, onde ninguém além da gente podia ouvir os meus gemidos, cada vez mais altos, que eu tentava abafar mordendo meu lábio com força até o derradeiro momento. 

Lentamente, quando acabou e aos poucos eu retomava a respiração habitual, a minha visão retornava  e não via mais o campo, nem aquele olhar de desejo, mas voltava para a escuridão do meu quarto, para a realidade fria, enquanto percebia que tudo aquilo não passou de um sonho acordado dirigido para aquela cena impossível. Ele se foi então, como fumaça, e eu fiquei sozinho na penumbra, uma vez mais, e conscientemente de mim mesmo, do que acabara de acontecer. 

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