terça-feira, 17 de maio de 2022

Indigno

Eu só tentei ajudar, no meu cansaço, imerso em indisposição, mesmo assim eu me coloquei para ajudar, para tentar ser útil em alguma coisa. Era só isso. Pediram a minha ajuda e eu não quis que as pessoas tivessem ainda mais problemas do que eu sei que já elas já têm. Mas parece que não sou bom o bastante. 

Isso não me surpreende, embora machuque muito. Mas não me surpreende. Eu sempre soube que não era bom o bastante, que era indigno, e que deveria apenas me recolher a minha insignificância. Pois bem, é isso que vou fazer. A partir de agora eu serei apenas mais um sentado em silêncio no banco, quieto e imperceptível no último lugar, já que ninguém briga por ele. 

É o que posso fazer, me afastar em silêncio, se é isso que é pedido de mim, se é o que posso fazer. São espinhos que nasceram na minha roseira, e eu devo sorrir com agradecimento por haver espinhos pois há também rosas. 

Isso é o que eu recebo por toda a minha arrogância, por todo meu orgulho, por achar que poderia ensinar. Meu erro foi pensar saber alguma coisa quando eu sou todo ignorância. 

Mas isso cessou, de agora em diante o silêncio falará em meu lugar. E apenas ele. 

Perdi o sono, perdi a fome. Aquelas palavras ásperas continuam vindo e vindo de novo, não me deixam desligar, não me deixam pensar em mais nada. Só consigo me sentir um lixo, me sentir humilhado. Só consigo pensar no quão desprezível eu sou aos olhos de todos, no quanto de nojo há no olhar deles para mim. 

Que mais poderia ter feito, onde foi que eu faltei?

Eu dei meu sangue, meu suor, minha vontade quando tudo mais em mim havia morrido. Quando eu não conseguia mais viver para mim eu conseguia viver para os outros, e nem isso foi o bastante. Mesmo assim fui descartado, jogado fora como se não fosse nada. E verdadeiramente agora vejo que é isso que sou: nada. Do alto da minha arrogância e prepotência eu fui lançado ao chão, e tudo retorna ao nada. 

Sou tomado, portanto, do mais absoluto desânimo. Não consigo mais ver o horizonte, só consigo meditar a tristeza que há no meu coração. Saturada de males se encontra minha alma. Enfim, busquei a felicidade em vão, mas nada pode me encantar na terra, a verdadeira felicidade não se encontra aqui.

"Tornei-me objeto de opróbrio para todos os inimigos, zombaria dos vizinhos e pavor dos conhecidos. Fogem de mim os que me vêm na rua." (Sl 30)

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