segunda-feira, 9 de maio de 2022

Luz e Sombra


"Eu acho que há algo de belo em se acalmar com a tristeza. A prova disso é como as canções tristes podem ser tão bonitas. Ficar triste não deve ser evitado. A apatia e o tédio é o que devemos evitar."
Joseph Gordon-Levitt
('Rousse' por Henri de Toulouse-Lautrec, 1889)

Tenho lutado contra as imagens de luz e sombra que têm aparecido em minha mente nos últimos dias. Eu sei bem que elas estão turvadas por algo mais forte do que eu e que me impede de ver as coisas como são. Tenho tentado me manter acordado o máximo que puder, e isso tem gerado uma profunda sensação de que tudo é um saco, me vejo entediado com tudo e todos ao meu redor, resmungando baixinho pelo canto, pedindo ao universo que os dias passem logo e que chegue a noite pra que eu possa me entregar ao sono. 

Me entreguei as canções tristes mas elas não foram capazes de despertar em mim muita catarse, do mesmo modo as músicas animadas não aceleraram o ritmo do meu coração, parece que eu perdi a capacidade de me deixar dominar pelas emoções e me tornei apático. 

Nos últimos dois dias, no entanto, eu finalmente pareço ter entrado em transição, ou ao menos num episódio misto, e aí as coisas se tornaram um pouco mais claras, e é impressionante como em dias as minhas ideias realmente se tornam mais clarificadas, muito embora eu adquira uma certa inquietude que me impede de sentar e escrever, o que explica o espaçamento entre um texto e outro, eu estava, em tempos, entediado demais ou inquieto demais para escrever sobre o que eu percebia do mundo, já que as imagens vinham em velocidade mais rápida do que eu conseguia registrar ou estava paralisado ainda (já que é um episódio misto e portanto o fator depressivo ainda persiste dividindo espaço com fluxos de energia que vêm e vão sem motivo). 

Terminei uma longa série e não me senti entediado enquanto assistia ao lindo Song Kang sendo apaixonado, mas fiquei com preguiça de começar outra e fui dormir, hoje já me veio a vontade de maratonar os filmes da última trilogia de Star Wars e me deleitar com os efeitos especiais enquanto mais uma vez critico a simbologia imposta pela Disney a essa nova fase da franquia em detrimento da simbologia que eu admiro na obra original.

Meus pensamentos chegam na velocidade da Marcha Imperial de John Williams, e com a mesma imponência eles se colocam sem possibilidade de escape, e me prendem, me soltando em seguida para recomeçar o ciclo. Ainda derramo uma lágrima quando me lembro da morte do Tofu e imediatamente abro um sorriso ao ver o rosto iluminado do Sarin. 

E isso é apenas um exemplo bobo de como tem sido os últimos dias. Em alguns momentos consigo ler com extrema compreensão artigos que, em outros momentos, eu não consigo compreender de maneira alguma. Como disse, em alguns momentos tenho uma claridade das coisas que penso, vejo e digo, mas em outros momentos impera a confusão e o desespero, seja num momento de silêncio ou durante alguma atividade meu coração palpita e a respiração falha enquanto sou tomado por um medo abissal que me paralisa, às vezes consigo escapar fugindo para alguma fonte de luz como uma música ou situação, mas em outras eu fico preso pelo que parecem dias (mas na realidade não passam de alguns minutos intermináveis). Me torno impaciente e preciso pausar um vídeo curto mas não me importo com uma aula de duas horas com um assunto que me interessa. Em alguns momentos sou tomado de uma apatia libidinosa quase vegetal e em outros sou engolido pela voracidade de uma besta luxuriosa. 

Tenho então enfrentado um mar agitado em dia de sol, embora a luz brilhe sobre minha cabeça isso não significa que a navegação se torna fácil, antes disso, muitas vezes a luz é capaz de cegar tanto quanto a escuridão. Há luz e sombra dentro de mim, e elas lutam constantemente pelo controle, e eu já não sei mais de que lado deveria ficar. 

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