sexta-feira, 6 de maio de 2022

Dias Lentos

Tem sido horrível suportar o dia todo desperto, o tempo parece passar lentamente, dias e mais dias espremidos numa única tarde tortuosa que não finda nunca, e quando finalmente vem o cair da noite, é apenas para prolongar o suplício por mais horas e horas, agora com a companhia de um crescente pânico causado pela crise depressiva, e que sou forçado a aguentar até adormecer, para finalmente despertar no raiar de um novo dia, de um novo dia terrível. 

Eu já não tenho mais paciência pra suportar um dia inteiro, o tédio me consome até o tutano, me vem uma forte vontade de sumir, de desaparecer e eu só consigo satisfazer essa vontade dormindo, apagando sob fortes doses de remédio. Eu não suporto mais viver um dia inteiro, e quando tenho compromisso à noite isso só piora porque eu já chego lá no limite do estresse, prestes a surtar a qualquer instante. 

Por mim eu dormiria indefinidamente, sem acordar ou acordando apenas pra ver os lançamentos das séries que eu gosto e voltando a dormir em seguida. Não vejo nenhum sentido em permanecer acordado. 

Minha mãe perguntou como eu consigo, por exemplo, na Semana Santa, me focar em algo e executar enquanto em casa eu não consigo me dedicar a nada além de estudar um tanto pela manhã e ler um pouco entre uma crise e outra. Mas fora de lá, fora de onde eu tenho algum objetivo, não encontro nenhuma razão pra me manter acordado. A única esperança que eu tenho é a da vida eterna, mas aqui, nessa vida, é tudo desilusão, é tudo vazio, e isso é desesperador. 

Fico dando voltas pela casa, entediado, nem o vizinho bonito sai mais na rua nesse período escolar, ou apenas deitado, fritando, rolando na cama de um lado pra outro, esperando que um meteoro extermine o mundo e com ele a minha insignificante existência. As mesmas músicas repetem no player e poucas vezes consigo me distrair cantando alto, mas logo o incômodo invade meu coração, e tudo o que eu consigo fazer é escrever, e sangrar essas palavras como se derramasse todo meu ser em cada frase, e cada período é como um pedido de socorro nesse mundo que me sufoca e que me assusta, como raios e trovões numa noite de tempestade que nunca acaba. 

Às vezes penso que busco uma companhia, alguém que me abrace e que faça sentir que tudo vai ficar bem, noutras vezes eu não quero ninguém, e quero me afastar de quem está próximo com medo de me machucar. Não sei bem o que eu quero, só queria que essa inquietude acabasse, queria sentir a tranquilidade de não esperar que as coisas precisem melhorar, queria não sentir o desespero que é olhar pra fora e ver um mundo feio me rodeando e sufocando. 

Queria olhar pras estrelas e conseguir ir pra algum universo distante daqui, perdido em algum lugar da nebulosa de Andrômeda, distante demais da Terra pra voltar, sem nada desse mundo pra me assustar, sem nenhum fantasma a me perseguir, sem nenhum leão a me rodear. 

Lá, em outra galáxia, eu encontraria meu Pequeno Príncipe, o abraçaria com força, o cativaria com meu carinho e faria do seu coração a minha morada, a minha paz. 

Nestes termos parece que sofro apenas de uma carência latente, mas consegue perceber a profundidade desse sentimento? De estar excluso dum mundo, de não ter onde repousar a cabeça, de sentir-se completamente perdido sem alguém que me tome pela mão e me leve a algum lugar, onde dormir e me dopar não seja mais necessário, onde viver faça sentido por si só. 

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