sexta-feira, 15 de abril de 2022

Um pouco da dor

Segundo dia do Tríduo Pascal, dia em que a atmosfera ganha um ar pesado e o silêncio se torna cheio daquela agonia que Jesus passou até o momento em que entregou o seu espírito num "Consummatum est". A leitura da Paixão, a longa reflexão proposta na liturgia com o cântico dos Lamentos do Senhor e as tradicionais procissões penitenciais meditando a Via Sacra são cansativas, fazem a gente sentir um pouquinho do que foi aquela dor do calvário, por isso quando finalmente silenciaram-se as matracas hoje após as celebrações, o cansaço gritou, e cada fibra do corpo reclamou e então eu me senti grato por poder sentir na minha carne um pouco daquilo que Cristo sofreu na cruz. 

Amanhã é o último dia do Tríduo, mas ainda restam três grandes celebrações a preparar, as laudes, a Vigília e a Missa da Páscoa do Senhor, ainda há um longo caminho a percorrer, há que se cantar a esperança na ressurreição, acompanhar o povo santo transpondo o Mar Vermelho a pé enxuto, até finalmente cantar "Salve ó vitima pascal!". Meu corpo precisa aguentar mais dois dias, e então finalmente poderá descansar. 

Claro que em alguns momentos bate aquele cansaço extremo, como foi nas últimas estações da Via Crucis quando eu já não conseguia mais cantar ou responder e custava a me lembrar quais eram os detalhes que devia preparar nos próximos momentos, mas no fim as coisas se encaixam de um modo ou de outro. 

Por fim ecoam em minha mente as palavras dos Lamentos "Que mais eu poderia ter feito?" e então recordo as pequenas consolações que recebemos do Senhor ainda nesse dia, mesmo estando ele tão chagado na árvore da cruz, pendendo como fruto da nossa Salvação. Sejam trechos de algumas das belas canções de hoje que nos inspiram a caridade e a virtude, ou um sorriso num momento de dificuldade quando todos parecem confusos com suas funções, até aqui o Senhor nos cumula de graças que vertem como verteram sangue e água de seu lado aberto. 

Nenhum comentário:

Postar um comentário