terça-feira, 28 de junho de 2022

Alguns símbolos

Eu quero deixar a torrente correr livremente, levando tudo o que encontra a sua frente. Não vou me opor a nenhuma força que eu não possa conter, vou simplesmente deixar fluir, como água de cristalina fonte, mas que irrompe em ondas indestrutíveis e mortais. É assim que as coisas são, o coração não é tão simples quanto pensa, ele transborda e se impõe como uma alta cachoeira que parece fazer com que suas águas venham dos céus, chegando aqui com a força de um míssil.

Numa noite escura surge um sinal de luz, o branco de opõe ao negro, e ambos se encontram no coração do homem, formando um amálgama de elementos contraditórios, a perfeita definição do homem que se sucede em contradições e, apoiando-se numa base de realidade lida com inúmeros fatores caóticos que se lhes apresenta. É a lua que, impassível em seu brilho prateado ilumina a face daqueles que se banham sob ela, inclusive aqueles que não sabem mais olhar o céu e contemplar esse símbolo da força e da infinitude de Deus.

A primeira coisa que me surge é o contato imediato com a beleza transcendente de um homem. A pele clara e macia, os traços delicados, lábios rosados e o olhar colorido, alegre e penetrante, sedutor, os trejeitos doces. Ele exerce sobre mim um feitiço que me faz contemplar a sua imagem com devoção. É a beleza em sua forma quase plena, plasmada pelas mãos dos próprios anjos. Não há como me deparar com uma imagem dessa e não pensar no Belo e no Bem, mesmo que seja apenas um rapaz bem vestido e bem cuidado, a clareza e as proporções que ele transmite o transformam num símbolo de beleza, algo a ser imitado, admirado, contemplado. 

Outra impressão é a da voz, que canta a única arte que é ensinada pelo espírito, como dizia o grande filósofo. Essa voz, capaz de guiar as almas perdidas no escuro de volta para a clareza da simplicidade real encanta, aquece o coração. São os afetos da alma transformados em notas, melismas e falsetes. Seja numa música mais popular, como um Jeff Satur e sua poderosa sedução, na sua entrega, na forma como expressa os sentimentos profundos em canções onde o que canta não é a sua voz mas o seu coração, ou na explosão do Kyrie da Messa da Requiem de Verdi que culmina depois no esmagar da existência ao início da sequentia, arrebatadora e que se repete ao longo da obra para nos recordar sempre de nosso compromisso com aquele tribunal onde se assenta o justo juiz num trono de mais alta beleza. 

Por fim tem a claridade, aquela sensação de que não apenas o sol, mas a companhia de outra pessoa aquece o ser, conforta o coração, eleva o pensamento em conversas por vezes edificantes. A amizade que tem sua fonte em Deus sempre leva mais e mais para perto de Deus, da Verdade. A claridade pode iluminar a escuridão mais profunda, que das profundezas clama por ser ouvida. Essa claridade se expressa no amor, muitas vezes incompreendido (Eu te amo pode ter tantos significados, e quantas vezes nos limitamos a repetir essas palavras de forma vazia ou contendo um sentimento que os outros não conseguem captar porque há muito já perderam a capacidade de amar, de amar verdadeiramente aquele que olha com carinho e se deixa levar pela tranquilidade da companhia...), muitas vezes deficiente, cego por nossas próprias convicções, mas ele está aí. É o sol, o amor, fogo que arde sem se ver, mas que precisa se adaptar, aceitar. 

"O amor é paciente, é bondoso, não tem inveja e não é orgulhosa, não é arrogante nem escandalosa, não busca interesses seus, não se irrita e não guarda rancor. Não se alegra com a injustiça, mas se rejubila com a verdade. 7.Tudo desculpa, tudo crê, tudo espera, tudo suporta." (1Cor, 4-7)

Um comentário:

  1. Andar um caminho escuro é difícil aos olhos vendados, eis a necessidade de um companheiro e um guia, que buscam chegar ao mesmo destino, ao mesmo fim último. Uma mão tem o poder de unir , tem o poder de guiar, tem o poder de despertar. Quando seguramos a mão de alguém é como uma pedra atirada em calmas águas, acelera o nosso ser, acelera os nossos passos, quebra e retira a barreira e a venda que, as vezes, o mundo impõe sobre nossos olhos. Seguimos, então, o itinerário da vida. Qual o destino? A Verdade. Obrigado, padrinho.

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