quinta-feira, 16 de junho de 2022

Estrada

Meus vizinhos são pessoas bastante alegres, quase todos os dias eu posso ouvir a música alta e as risadas deles, os amigos chegando com caixas de cerveja e as crianças brincando na rua. Mas hoje eles estão silenciosos, parece que estão dormindo, e é estranho num dia tão claro e bonito como esse.

Talvez a minha melancolia tenha chegado lá também. Ainda que o sol brilhe forte e eu sinta ele aquecendo a minha pele, eu ainda sinto o mundo cinza, ainda sinto vontade de simplesmente desaparecer por aí, sem rumo.

Sinto que caminho num deserto, perseguindo uma miragem de sombra, e quando finalmente chego na sombra eu desejo a luminosidade de novo... Isso porque não sei o que eu procuro de verdade. 

Convicção paradoxal. Abraço apertado. Sonhos. Saudades. Ansiedade. Ilusões. 

Sonho com os amplexos do amado, com os beijos apaixonados, ao mesmo tempo que fujo de me aproximar dos outros, que nego qualquer sentimento, que sufoco tudo o que parece que pode tornar-se mais do que uma simples afeição. Não quero paixão, não quero fogo, não quero ser consumido por meus sentimentos de novo. 

Paro por alguns instantes, e me sobra apenas silêncio. Elevo os olhos e vejo que já é noite, a brisa fria sopra, e eu continuo lidando com pensamentos que fluem como num riacho, mesmo que não sejam violentos eles não param um instante sequer.

Eu já não acredito que algo possa mudar ou acontecer. Um cara bonito passou por mim durante a missa, trocamos olhares rápidos, mas eu logo virei o rosto e continuei meu caminho. Já não me restou esperança, admiro quem ainda tenta e me entristeço ao ver as pessoas entrarem em desespero por causa da dessa mesma esperança. 

Não consegui extrair mais nada do silêncio, se eu fecho meus olhos sinto apenas uma profunda desesperança, uma longa estrada vazia que leva a lugar nenhum. E eu já estou cansado de caminhar. 

Mesmo depois de um longo dia, de toques, de olhares, eu sou jogado num mar de águas geladas, ante a verdade da minha solidão. E então, em meio a sorrisos eu me recordo das palavras que escrevi na pele: E tudo retorna ao nada! E por isso me lembro que meu destino final é a solidão eterna, o vazio, o silêncio de um oceano imenso que eu nunca poderei abarcar e que me engole, me envolve e me lança para suas águas profundas. 

Como no prelúdio de Tristão e Isolda a onda vem lentamente engolindo tudo por onde quer que passe, e depois resta apenas o silêncio, antes que a onda fique ainda maior e destrua tudo. 

E na escuridão abissal eu vejo que de nada adiantou as minhas noites sem dormir, as minhas preocupações, os meus anseios mais profundos, foi tudo em vão. Na escuridão eu busco a quem minha alma clama e não obtenho resposta. 

No silêncio da cruz ao cair da hora terça eu percebo que as minhas perguntas é que estavam erradas e que eu não preciso de outras respostas, tudo já está consumado. Mesmo que ao suspiro caia sobre a terra grande escuridão a resposta ainda permanece lá, e eu é que finjo não ver quando ela se ergue diante de meus olhos e dos olhos de todos. A verdade sempre esteve lá e eu sabia, sabia e fingia não saber. 

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