segunda-feira, 27 de junho de 2022

Destruição

Bateu de repente, enquanto eu lia algumas aleatoriedades as palavras simplesmente se misturaram com o som da música e tudo ficou caótico na minha mente, o mundo parecia girar. Eu já não conseguia distinguir as coisas, o que eu estava fazendo? Qual era o significado daquelas palavras? Me senti perdido, não somente no que estava fazendo, mas completamente perdido em minha história, perdido em pensamentos que eu não conseguia nem entender o que eram, que passavam rapidamente ante meus olhos, flashes, piscando como num efeito de luzes numa festa, me tonteando. Me senti como se andasse dias no sol, em busca de uma sombra fresca qualquer mas acabasse caindo de cansaço no deserto. 

Eu sei bem que isso acontece de vez em quando, é o meu organismo querendo que eu alimente mais ainda minha dependência dos meus remédios, tornando minha consciência confusa, como a superfície turva de um rio furioso. 

Agora minha cabeça dói, e eu preciso ficar alguns instantes quieto para ver se consigo recuperar um pouco do equilíbrio. Não consigo nem mesmo entender o que estou escrevendo nesse momento, só sei que preciso continuar fazendo-o ou então posso acabar deixando minha mente se perder demais numa torrente de pensamentos que pode me enlouquecer. Preciso conseguir canalizar o máximo que puder nessas palavras, despejar o que for possível em cada sílaba e assim tranquilizar o meu espírito. 

Foi tão rápido, ou fui eu que não notei a sua aproximação, só sei que foi como uma explosão, como aquela do Dies Irae que destrói tudo por onde passa. Eu fiquei catatônico, observando aquela devastação de prédios, ruas, carros e do meu próprio coração despedaçado sendo lançado a esmo como os meus miolos. E ao mesmo tempo em que meu corpo era desfeito, em que cada fibra se desfiava e se emaranhava até sumir no ar, eu via a tudo isso, como quem assiste, e me via assistindo também aquele que via. E assim foi, eu só podia observar aquela destruição, o chão se abrindo em rios de lava e labaredas engolindo tudo e abrasando até mesmo o ar que entrava por meus pulmões e queimava por dentro enquanto podia ouvir o ressoar de trombetas convocando um exército de mortos de volta a uma existência monstruosa de puro ódio e vingança.

E eu não conseguia me mover, como se estivesse acorrentado pelos ossos numa cadeira e fosse obrigado a assistir aquela condenação, sendo ela mesma uma tortura, vendo a destruição repetidas vezes, numa guerra e num cataclismo que nunca findavam, apenas aumentavam em mais e mais destruição, e a minha própria mente estava já destruída, reduzida a pó. 

Lacrimosa dies illa
Qua resurget ex favilla
Judicandus homo reus

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