segunda-feira, 13 de junho de 2022

Cidade Bêbada

É sexta a noite, a cidade inteira está bêbada, e eu preciso de um dose de whisky. A carência me bateu forte hoje, e tudo o que eu consigo desejar é um peito largo onde eu possa deitar a minha cabeça e dormir, e braços fortes para me abraçar. É tudo o que eu queria, sem precisar de mais nada, poderíamos apenas ficar em silêncio, ou ouvindo alguma música, mas eu não queria estar sozinho assim. 

Estendo meu braço e sinto a cama parecer maior do que de costume, está frio, a música baixinha no player parece me deixar ainda mais triste, talvez eu não devesse ter escolhido uma playlist tão romântica. 

Por outro lado eu deixo a minha mente vagar brevemente, pensar num futuro possível onde encontro alguém, e sou de imediato tomado por um medo de me entregar mais uma vez. Toda vez que me aproximo de alguém eu tento fazer essa pessoa me amar, eu tento fazer ela se encaixar na minha vida e, quando ela vai embora, eu fico chateado e quebrado, e isso já aconteceu dezenas de vezes, eu já perdi a conta de quantas pessoas foram embora, quantas despedidas sem explicação, quantos abraços apertados se tornaram olhares de desprezo, quantas conversas noite a dentro se transformaram num contato qualquer sem nenhuma relação. 

É sexta a noite, e jovens passam rindo na rua, a luz amarela dos postes preguiçosamente ilumina os jardins, os únicos além de mim a estarem quietos nessa noite. 

Onde estará aquela pessoa a essa hora? Será que eu passo por seu pensamento entre um copo e outro de chopp? Eu acho que não. Sou o único que está pensando no passado nessa noite. 

Preciso acordar cedo amanhã e arrumar algumas coisas, mas de repente me veio a vontade de não fazer mais nada, e assim eu vou me entregando lentamente ao torpor, fechando os olhos enquanto a escuridão invade meu coração, enquanto meus sentidos vão desaparecendo, enquanto a música vai se perdendo como se eu estivesse afundando no oceano e já não conseguisse mais ver a luz da superfície. E assim eu vou mais uma vez entrando em depressão, aos poucos vendo tudo perdendo seu contorno, aos poucos sentindo que eu mesmo já vou deixando de ser, apenas para existir sem forma, apenas uma massa de saudades e carência, braços apertos que se desfizeram como fumaça, um amor que nunca foi correspondido e que foi levado com o vento. 

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