quarta-feira, 27 de dezembro de 2023

As pessoas lá fora

Novamente enquanto passava por uma área comercial da cidade, num dia atípico para mim pois quase não saio da rotina casa-trabalho, me passava pela cabeça o quanto acontece no mundo fora do meu pequeno horizonte de consciência. Constatação básica para um filósofo, ou um adulto, mas se bem percebo das pessoas que conheço quase ninguém sabe disso, mesmo sabendo-o assim mesmo. Acontece que, mesmo sabendo que há um mundo lá fora, e por lá fora entenda-se tudo aquilo que ultrapassa os vinte ou trinta metros dos lugares que trabalhamos, ainda assim não temos muita noção que, lá fora, o mundo continua. 

Têm pessoas trabalhando no sol quente, outras entediadas num escritórios refrigerado, têm pessoas buscando mudar a decoração de casa e tem gente pensando em qual restaurante caro almoçar ou jantar. As possibilidades são tantas quantas pessoas existem por aí. Em algum lugar à beira da praia pessoas trabalham servindo outras que estão de férias ou folga. 

Não é a descoberta de um país, apenas percebi que eu venho, novamente, me fechando em um mundo absurdamente pequeno e, da última vez que deixei isso acontecer, acabei saindo gravemente ferido, numa depressão que ainda hoje me assombra. Não posso permitir, mesmo que o sol brilhe forte lá fora eu preciso me lembrar, todos os dias, que o mundo não termina nos limites das portas do meu trabalho ou da minha casa. Há um mundo de possibilidades, um mar não longe daqui que se estende imensamente e um céu que se abre infinitamente. 

Ainda que os tentáculos gelados da depressão me apertem a voltar para o fundo eu preciso, de algum modo, subir até a superfície novamente e respirar... 

Percebo também, um pouco para além da dicotomia do meu transtorno bipolar, alguns sinais de estafa, o que não me surpreende, já que as pessoas parecem não notar em nenhum momento que eu faço bem mais do que uma pessoa daria conta. Quando percebem apenas comentam, de todo não fazem nada efetivamente, além de cobrar como se nada disso estivesse acontecendo. E sei que, ao fim disso, ainda vou sair como errado, preguiçoso, é sempre assim. Enquanto eu dou conta de tudo, sou querido e elogiado mas, agora que o peso do cansaço e da fadiga cobram uma taxa do meu corpo e da minha mente, quando isso chegar ao ponto de já não dar conta de tudo o mais, eu serei descartado.

Bom, a verdade é que nós só nos importamos quando fazemos algo valioso, ademais, maybe they just don't give a damn...

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