terça-feira, 19 de dezembro de 2023

Grãos de areia no meu rosto

Night Spectre on the Beach, Salvador Dalí

Continuo no meio de um grande deserto de areia, onde os pequeninos grãos  me dilaceram a face como se fossem navalha. 

Como descrever o que venho sentindo? Não sei nem por onde começar. Crises de choro, tremedeira, impaciência, ansiedade, a mente em intenso barulho e vazia ao mesmo tempo. Um inferno, complexo e difícil de descrever, mar congelado queimando as minhas mãos, a mente cansada de vagar sem rumo e, no entanto, parece que fui condenado a caminhar sem descanso. E não exagero em dizer que, por culpa da percepção distorcida pela depressão, ou não, cada pequenino detalhe tem dado errado na minha vida. O calor insuportável, pessoas incompreensíveis no trabalho, a porta que quebrou e até mesmo o doce que comprei estava estragado. Dias difíceis, sem dúvidas. 

Tentei me afastar, ficar quieto e em silêncio, esperando a boa vontade cósmica, ou orgânica, de voltar ao normal. 

Normal, quando foi que eu vivi algo normal? Nunca, nem soube o que se pode aproximar de algo normal. Tampouco consegui manter distância, droga, continuo idiota demais pra fazer algo assim, ainda que fosse me fazer bem. Bem, acho que tudo que eu sei fazer é me destruir. 

Tive de dizê-lo claramente. A minha indisposição não é apenas da noite insone, tampouco ressaca (nem disposição para beber eu tinha) mas vinha de um episódio depressivo que me pegou de jeito e que acabou comigo. Eu não sei como consegui sair da cama nos últimos dois dias, talvez o medo de perder o emprego ou o fato de saber que ficando em casa socado no quarto seria ainda pior...

"Estou com um problema sério que nasce do fato de que eu meio que não quero viver, mas meio que quero estar viva. Então todo dia eu tenho que lidar com questões que advém do fato de que no dia anterior eu decidi não mais existir, mas que, surpreendentemente, eu continuo aqui." (Mariana outra rosa, tweet)

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