sexta-feira, 8 de dezembro de 2023

E aí tem você

The End Of The Line, Nickie Zimov

Além da óbvia vergonha em não conseguir chegar a fim da relação, senti mais forte ainda aquela impressão de que falei tantas vezes aqui, e mais ainda para você: eu não consigo ter conexões com ninguém. 

Mas tem você.

E eu não sei dizer se nossa conexão é real ou apenas imaginária, e só isso é suficiente para me deixar inquieto. E ansioso.

E estou ansioso também por causa do trabalho, e sinto meu coração bater mais rápido. Um claro sinal de que deixei as coisas saírem do controle.

E aí tem você. 

O que nós temos?

Fui dormir deprimido, não sei quantas vezes eu chorei, e me abracei, e senti vergonha, e nojo, e raiva, e sangue e cântico nos lábios. A música estava alta, eu queria abafar meus pensamentos, queria não ouvir nada, mas tudo me incomodava. 

E eu só consegui dormir depois de várias horas, e de várias lágrimas. Tentando esquecer que, embora a conversa tenha sido boa, eu continuei sozinho, e enquanto o meu furor estava no auge eu estava sozinho, e quando eu consegui alguém, o fogo já havia passado, e já não era eu que foi ao encontro daquele desconhecido, mas sim um amontoado de cinzas ao vento...

Porque eu não queria só sexo, não, e não com qualquer desconhecido. Eu queria você, queria carinho, seu olhar, seu beijo, seu desejo. 

Mas eu não tenho você.

Assim como não tenho paz, ou futuro, ou teogonia. E não tenho você.

Aqui.

Comigo.

E agora já nem sei mais o que fazer. Acordei sem nenhuma vontade, tomei banho, comi e entrei no ônibus e ouvi a minha cota diária de ansiedade, sem nenhuma vontade. E estou ouvindo música e tomando café, e preciso adiantar alguns trabalhos, sem nenhuma vontade. 

"Decorrera tanto tempo que havia desistido de aplicar sua vida a um objetivo ideal e limitava-a a perseguir satisfações do dia a dia, que julgava, sem nunca o afirmar formalmente, que aquilo não se modificaria até sua morte; ainda mais, já não sentindo ideias elevadas no espírito, deixara de crer na realidade delas, sem todavia não poder negá-las de todo." (Marcel Proust)

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