sábado, 16 de dezembro de 2023

Procissão dos mortos

"Mas no parque e nas ruas os mortos continuam passando como se já estivessem num museu." 
(Charles Bukowski)

Hoje estou tendo um dia de cão, daqueles que faria o velho Buck se orgulhar da minha desgraça. Nessa confusão toda eu não encontro paz e nem refúgio, me encontro tal qual Jerusalém desterrada, pobre viúva sufocada. Sem álcool, sem amor, sem teogonia. E é preciso continuar, não posso parar nem para tomar fôlego. Ninguém o nota. Quem sou eu? Qual meu valor? É apenas o que consigo fazer e que alguém não faz ainda mas, quando o fizer melhor, vai rapidamente tomar meu lugar.

E eu nem me importo na verdade, sei bem que não tenho valor algum, assim como muitos não têm para mim. Estou péssimo, com uma cara péssima, depois de uma noite sem dormir péssima. Levantei pra tomar uma dose de um licor e deitei de novo, impaciente com o barulho da música, do ventilador e até com o difusor. Me masturbei duas vezes, me cansei da cara dos meninos bonitos dos vídeos, depois levantei, tomei um relaxante muscular e um zolpidem e me obriguei a ficar no escuro até adormecer, acordando poucas horas depois com o corpo cansado e extremamente irritando, contando as horas para poder ir embora, encher a cara e dormir, me fechar de vez.

Também não sei dizer se isso é um novo episódio depressivo, misto, se é um ciclagem provocada por uma discussão que tive ou sei lá, cansaço acumulado, tudo isso junto. Sei que minha autoestima está péssima, minha conta bancária pior ainda, me sentindo ansioso, tendo alguns acessos de choro ou apatia... Não foi uma noite sem dormir, foi um sinal de que estou prestes a colapsar. Minha cabeça já sem conseguir se atentar a nada...

Que inferno. Os dias parecem se suceder em desgraças infinitas, toda hora surge alguma porcaria, toda hora alguma coisa sai dos eixos, mesmo quando a gente tenta, tenta, tenta... A gente só se lasca. 

E claro que eu vou tentar fazer às pazes com ele, e claro que vou assumir toda a culpa, porque eu realmente me sinto culpado de tudo, de ser assim, tão fodido, tão intenso, sempre apaixonado, sempre querendo muito e nunca conseguindo ajudar. 

Hoje é um daqueles dias malditos que precisam acabar logo, mas que se arrastam em horas que mais parecem eras, que se prolongam indefinidamente em problemas e mais problemas. Eu queria poder colocar whisky nesse chá, me entupir de remédio e capotar por umas boas horas, mas algum idiota sacana achou que seria uma boa ideia obrigar todos os homens ao trabalho, a convivência... 

Não sei quanto aos outros mas eu estou morto e podre por dentro, e não é porque eles estão tão acostumados a miséria que os pareço melhor que isso signifique que eu esteja bem, pelo contrário. Acabaram com os manicômios e agora ninguém sabe mais quem é maluco e quem não é. 

Me encontro instalado no vazio. Cada pequeno maldito detalhe da criação me desagrada. Se aquele velho Buck me visse ele diria que nem sequer me pareço com um homem pra reclamar da vida de homem, mas que se foda, eu também não quero ser aprovado nem por ele e nem ninguém mais, isso dá trabalho e só serve para atrair mais problemas. Acho que só o que dá pra fazer é tentar aceitar essa porcaria de vazio, e aceitar que nada tem sentido e se tem é difícil de achar e mais difícil ainda de conseguir alcançar. 

Mas que porcaria é essa? Igual nesses programas idiotas somos jogados aqui e temos que sobreviver, competindo pra ver quem vai ser mais escroto que o outro? A vida me parece apenas isso, um partida idiota onde as pessoas tentam comer umas as outras. Como elas vivem assim?

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