sábado, 9 de dezembro de 2023

O que posso fazer


"Se não fosse a inquietude
dessa tempestade
que devasta o infinito
do meu peito, 
eu até me acalaria
com a chuva que cai lá fora."

(Joab Brandao)

Você ficou em silêncio, e eu nada pude fazer dada a distância que nos separa. Uma vez mais penso que a distância física, a do céu e das estradas que nos separam, é apenas símbolo da distância real que há entre nós. Você ficou em silêncio, e não havia nada que pudesse fazer além de silenciosamente adormecer escondendo algumas lágrimas de saudade no travesseiro, um suspiro se perdendo no ar perfumado. E nunca há nada que eu possa fazer. 

Como dizia Fernando Pessoa, as cartas de amor são ridículas, e é assim que me sinto, ridiculamente ridículo, e não há nada que possa fazer. 

É um fim de tarde preguiçoso... O dia nublado e fresco, silencioso, como a melancolia tivesse tomado conta da atmosfera e, enquanto me recupero lentamente do cansaço das últimas semanas a minha mente busca um lugar tranquilo, um jardim fechado e secreto onde, por entre açucenas olvidado eu possa deitar a minha cabeça num colo sentindo a brisa dos leques dos cedros. É claro que, em busca de calma, minha mente vai até você. E se agita. Se inflama. E não há nada que eu possa fazer. 

Porque você nem sequer pensa em mim, atolado em suas obrigações que te sufocam e engolem completamente, te deixando num cansaço tremendo e permanente, fazendo com que fiquemos cada vez mais afastados, e se antes compensávamos, mutatis mutandis, a separação abissal dos nossos sentimentos e dos nossos corpos com a presença virtual das nossas conversas, agora até assim nos afastamos, temporalmente, por assim dizer.

E não quero ser mais um peso para você, que luta e que segue seus sonhos. E eu, homem sem sonhos que não tem pelo quê lutar, bem... Não há nada que eu possa fazer. Além de te amar. Mas continuar amando assim dói, e não há nada que eu não possa fazer.

"Sonharás uns amores de romance, quase impossíveis? Digo-lhe que faz mal, que é melhor, muito melhor, contentar-se com a realidade; se ela não é brilhante como os sonhos, tem pelo menos a vantagem de existir." (Machado de Assis)

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