quarta-feira, 13 de março de 2024

Nota de Pesar | Germano Camargo Busch

Momento de choque ainda não processado completamente com a notícia do falecimento do meu chefe. E já é irônico começar assim porque uma das poucas exigências dele era justamente de não ser chamado chefe. E assim foi, era como a gente se falava lá: sempre que algum problema sério aparecia a conversa ia pra outras bandas... As disputas políticas locais e internacionais, a construção de vias de esgoto, o sistema educacional, até aleatoriedades como alguma história sobre um músico ou político da região. 

Vou me lembrar por muito tempo dessas longas conversas, que tínhamos só por distração, por ser bom conversar e não pensar em problemas. Também não vou esquecer das vezes que reconheceu meu esforço, que viu meu cansaço e me deixou ficar quieto, quando me ligava preocupado, como sorria quando eu dizia que estav bem e pronto pra outra. Poucas vezes conheci pessoa tão simples e gentil, que falava manso no telefone e conseguia tudo de todos assim, sorrindo e lembrando das histórias que ninguém mais lembrava. As piadas sem graça, o dom pra inventar de me fazer trabalhar quando eu já queria ir embora e de me mandar embora quando eu ainda tinha muita coisa pra fazer. 

Repito, poucas vezes conheci e sei que dificilmente vou conhecer pessoa tão simples e gentil. Que conhecia os donos das maiores empresas mas preferia passar o tempo falando com os funcionários ou com o ilustre desconhecido que veio visitar.

Germano Camargo Busch me mostrou um mundo de arte que eu não conhecia, literalmente. Aprendi os bastidores das exposições, que o trabalho intelectual muitas vezes precisa pegar no martelo e arregaçar as mangas, que a simplicidade é o segredo pra não se deixar levar pela loucura acumulada e crescente. 

Não vou esquecer dessa gentileza, que agora tomo como lição a ser seguida e levada em frente. Mas é isso, ele agora se foi, e na outra semana temos que voltar ao trabalho. E como ele sempre dizia "e não tem o que fazer." Ainda assim, obrigado por tudo. Ainda que meu chefe sem querer, foi um dos primeiros que se preocupou comigo aqui em Joinville e que conquistou uma amizade inesperada. Não só me deu um emprego quando eu tanto precisava recomeçar numa nova cidade, ele acreditou em mim. Obrigado.  

Germano Camargo Busch
Vice-Presidente e Diretor do Instituto Internacional Juarez Machado
Fumante de cachimbo em tempo integral e administrador nas horas vagas, músico aposentado, pai e amigo
04/02/1975 - 13/03/2024

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