"Você está bem?"
Uma pergunta para a qual eu não tenho resposta. Minha mente, em estado de euforia, se encontra confusa, confusa demais para que eu consiga entender as coisas como elas são. Não sei bem o que é real ou o que é imaginário. Mas o que é imaginário não seria também, de algum modo, real?
Minha única certeza, no entanto, da qual não posso discordar nem por um instante sequer, é do sentimento que palpita em meu peito inflamado. É ele, e apenas ele, que há em mim, seja ao olhar pela janela e ver o dia claro, um pouco quente, de primavera, ou se fecho os olhos enquanto ouço os compassos moderados do suspense presente na "Ressurreição", a 2° Sinfonia de Mahler.
Mas esse sentimento, longe de ser aquela coisa bela e restauradora, como se pudesse compará-lo ao sol ao modo de um Shakespeare apaixonado, é, em realidade, uma espécie de tortura. É um sentimento alimentado sozinho, um sentimento que vem, já não mais me dando forças para continuar, seguir, mas um que vem me corroendo, me desfazendo.
E, enquanto isso, o mundo segue. Crianças nascem. Pessoas fazem reuniões. Os carros passam rápido, e dentro deles há pessoas com diferentes histórias, diferentes destinos. Será que elas também amam até o ponto de se machucarem assim?
Esse encontro, alguns minutos sentado ao lado dele, meses atrás teria me matado. Mas eu não senti mais do que indiferença. Notei as espinhas e pontos vermelhos no seu rosto, não uma perfeição que só existia em meus olhos quando eu estava algo como apaixonado. Não senti isso. Segui meu caminho e eu o dele. Um breve devaneio até tomou minha mente... E se morássemos juntos, num relacionamento secreto, num paraíso particular... Mas não durou mais do que uma troca de calçada.
Não é uma escolha. Não há como escapar do Dilema do Ouriço. O inferno são os outros. E eu mesmo.
Vejo-me diante de um espelho, refletindo um demônio que me encara com seus olhos profundos, escuros como o oceano. Reconheço-me nesse demônio. Sim, sou eu. Não apenas a malícia que há em mim e que por qualquer razão veio à tona. Não. Reconheço-me homem e demônio, senão que todos que me rodeiam são como príncipes, todos ainda mais sujos e obscuros do que eu a ostentar um brilhantismo falso.
O inferno sou eu, peque comigo.
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