domingo, 20 de outubro de 2024

Vida ao Redor

Há vida fora da internet. Eu só não sei onde. 

Todos os dias, de todas as semanas, são iguais. Eu saio cedo, passo o dia tentando, claramente sem sucesso, não enlouquecer, e volto para casa, cansado demais, assisto uma aula, um ou dois episódios, e capoto de sono, acordando no dia seguinte sem descansar o suficiente, para começar tudo de novo. 

Nos fins de semana, sempre que chega perto da hora de ir embora, eu começo a me animar e penso que vou maratonar alguma série, fazer uma caminhada ao trapiche ou coisa assim, simples mesmo. Mas nada. Só consigo encher a cara de remédio, chorar por amores não correspondidos, e dormir por dias inteiros. 

Agora mesmo, esperando o coquetel do sono fazer efeito enquanto escuto algumas faixas selecionadas do meu amorzinho Keen Suvijak e do grupo Lykn, prestando atenção nos vocais poderosos do William, além da sensualidade do Nut. 

Penso um pouco no que pode ter ocasionado o desentendimento entre o Joong e o Est, ship do William em ThamePo, próxima série da GMM TV. E isso é o máximo que me permito ir além do meu ambiente imediato.

Claro que a literatura me ajuda a quebrar essas barreiras. Nas últimas semanas tenho feito um mergulho no imaginário da Babilônia ao ler um estudo incrível do Enuma Elish (Quando no alto… "), e na profusão de símbolos dela grande epopeia. O abismo imaginativo entre nós e eles é imensurável. Embora o progresso técnico seja, por vezes, inquestionável, e por vezes não, acredito que há muito da intelectualidade que se perdeu: ao me deparar com o mito da criação babilônica vejo uma capacidade de apreensão simbólica imensamente maior que a de todos os intelectuais, no sentido acadêmico do termo, que conheço. As pessoas de outras épocas tinham uma forma diferente de compreender o cosmos. Os arrogantes cientificistas os declaram primitivos, eu, por outro lado, enxergo uma riqueza inestimável, e algo que se perdeu e que impacta diretamente na nossa capacidade de conceber o mundo hoje:

Há vida fora da internet. Mas onde? Eu, contaminado pelos vícios da minha época, preciso constantemente fugir do ambiente imediatista e puramente sensível que me rodeia. 

Há vida fora da internet. Mas hoje eu vou apenas dormir. 

E o mais que faço não vale nada. 

"O que quer que tentemos ou façamos, quaisquer que sejam os impulsos de nosso coração, o apelo de nossos lábios e o apelo de nossos braços, estamos sempre sós." (Guy de Maupassant)

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