LAUTIR |
O filósofo estava ali, no meio da rua, vendo um cavalo ser espancado e algo dentro dele quebrou. Não foi o som de um chicote no ar, mas o estalo da sua própria mente cedendo. Ele correu, abraçou o animal e, naquele momento, todo o peso da sua filosofia colidiu com a realidade brutal.
O homem que pregava o além do homem desmoronava diante da fragilidade de uma criatura indefesa. E aqui vem o ponto que Nietzsche nos deixou de legado: A vida é um caos e a mente mais ainda. Ele acreditava que o olhar ao abismo era inevitável, mas ninguém avisou que o abismo poderia olhar de volta.
Naquele abraço desesperado, Nietzsche não estava só salvando o cavalo, ele estava tentando salvar a própria humanidade da loucura que sempre espreita. Como alguém que passa anos pregando a superação, ele foi confrontado com a sua própria impotência. A mente que nos deu - assim falou Zaratustra, agora era apenas silêncio e delírio, e o que Nietzsche tanto tentou expor, o medo de se perder na própria busca por sentido, o engoliu.
Ele mostrou até os mais fortes podem ruir quando confrontados com a realidade nua e crua. No fim, o que restou foi o eco daquilo que ele sempre sofreu, mas que talvez não quiser se admitir. Quando você luta contra os monstros, deve tomar cuidado para não se tornar um.
E claro, às vezes, o maior monstro é o próprio peso dos nossos pensamentos.
A sabedoria do homem é loucura para Deus!
Essa cena marcante da vida de Nietzsche, onde ele abraça o cavalo espancado nas ruas de Turim, é uma poderosa metáfora do colapso de uma mente que passou a vida desafiando os limites da existência humana. Nietzsche, que tanto falou sobre o Übermensch (além do homem) e sobre a necessidade de transcender as fraquezas humanas, encontrou-se, naquele momento, frente à brutalidade do mundo e à fragilidade da vida. O homem que escreveu sobre o "eterno retorno" e sobre o "niilismo" experimentou, ali, sua própria fraqueza — a fragilidade inerente a todo ser humano.
Esse episódio não foi apenas uma manifestação de empatia pelo cavalo; foi o clímax de um filósofo que olhou para o abismo e, em algum ponto, deixou o abismo consumi-lo.
(Irvin D. Yalom)
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