A única teogonia que tem me acompanhado é aquela que enumera os feitos e os nomes de Marduk. Em dado momento do fim da manhã, enquanto olhava a multidão, a maioria crianças, a correr e gritar, eu me lembrei daquele séquito monstruoso engendrado por Tiamat, avançando ao seu flanco em direção ao fim do mundo. Eu desejei ser pisoteado por aquela massa disforme, por aquele caos primordial. As hostes que vejo são apenas os deuses em marcha para a batalha. Fechando os olhos, senti apenas o sono pesar, e me senti como o Apsu que não queria mais os deuses filhos seus por não conseguir dormir e descansar. Então, me vejo desejando voltar aquele tempo, quando no alto não se nomeava céu e embaixo a terra ainda não tinha nome.
Não vou pensar muito em nada do que se passou. Da semana infernal que vivi.
Em cada dia, especialmente em cada manhã, eu pedia pelo fim, pedia que fosse o último dia, pois não teria forças para vencê-lo. Mas eu cheguei ao fim de cada um deles.
e outro mais,
e outro.
Hoje é domingo.
Mas, de modo algum, me sinto vencedor. Sinto que apenas logo terei que tornar ao altar do sacrifício. Não em honra de deuses, mas em nome da ganância e da estupidez mais baixa da mente humana.
Quero me entregar ao sono reparador. É o mínimo que mereço, e eu mesmo decidi isso. Nesse mundo, nessa labuta infernal e incessante, esse é meu único momento de alento. Uma gota de água em minha língua tentando amenizar entranhas em chamas.
Não invoco nenhuma prece. Me deito com o mesmo sem vontade com que rasguei o ventre de minha mãe e aquela mesma certeza que não me levam a sério e que quem eu amo me vê apenas como o palhaço que eu sou. Aquele mesmo deus ânimo desconhecido sacrificado para que os homens assumissem a labuta dos deuses até o fim dos tempos para que eles, os deuses, pudessem descansar.
Mas, pelo menos, o dia não foi de todo ruim. Ganhei um abraço e um beijo, e ele me chamou de um jeito doce.
Mais tarde eu vou ver o Mick, Top, James, Kad, Almond e Progress.
Não peço nada mais. Até porque não me seria dado. Não sonho com mais nada.
Apenas durmo.
E os deuses se reúnem em assembleia para aclamar os cinquenta nomes de Marduk e destinar o destino dos homens.
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